Porto Alegre perdeu um dos seus prédios mais bonitos em 1951. No início da madrugada de 16 de novembro, os bombeiros do Centro foram acionados para combater incêndio no Colégio Júlio de Castilhos, ao lado da Faculdade de Direito, na Avenida João Pessoa. As chamas se alastraram rapidamente em função do vento forte. As primeiras equipes que chegaram ao local pediram apoio. Mesmo com quatro carros e em torno de 50 bombeiros, a destruição foi completa.
O fogo destruiu salas, a biblioteca e o museu do prédio, ocupado pelos estudantes por quatro décadas. Os bombeiros impediram que as chamas causassem prejuízos maiores nos imóveis vizinhos. Somente duas janelas da Escola de Engenharia ficaram danificadas. Ninguém morreu no incêndio.
Com 17 anos na época, o jornalista e escritor Flávio Tavares era estudante do segundo ano do colegial. Ele morava com os tios e foi acordado com a notícia do incêndio transmitida no rádio. O jornalista recorda que era período de exames escritos e orais, realizados dias depois no Instituto de Educação Flores da Cunha.
Os jornais da época noticiaram a suspeita de incêndio criminoso. Nos anos anteriores, outros prédios importantes foram atingidos pelo fogo, como Palácio da Justiça, Imprensa Oficial e Repartição Central de Polícia. Outro fato que aumentou os rumores era o pedido do diretor do colégio para reforçar a segurança e impedir a entrada de estranhos depois do fim das aulas noturnas. Um policial trabalhava naquela madrugada, guarnecendo os prédios do colégio e da secretaria, que ficava no outro lado da avenida. Mesmo com as investigações, não chegaram a qualquer conclusão sobre a causa. Flávio Tavares acredita que possa ter começado com algum problema na rede elétrica.
Em 2000, Otavio Rojas Lima e Paulo Flávio Ledur publicaram o livro Julinho: 100 anos de história (Editora AGE), com relatos de ex-alunos. O jornalista Paulo Sant´Ana, falecido em 2017, relembrou do incêndio, resumido como "um dos primeiros choques da infância". Contou que as aulas foram improvisadas na Escola de Preparação de Cadetes, atual Colégio Militar. Depois, veio o período no prédio do Arquivo Público, na Rua Riachuelo. Sant´Ana relatou para o professor Ledur que, no novo lugar, sentiu "o segundo grande trauma da infância" já que não tinha trocados para comprar mil-folhas e Coca-Cola como outros meninos.
As aulas continuaram no Arquivo Público até 1958, quando foi inaugurado o atual prédio do Julinho, junto à Praça Piratini. No local do imóvel destruído pelo fogo 70 anos atrás, fica a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). No lado de fora, junto à calçada, ficou uma coluna (veja na galeria de fotos) do muro do antigo edifício do Colégio Júlio de Castilhos.
Ouça a entrevista com o jornalista e escritor Flávio Tavares, aluno do Colégio Júlio de Castilhos em 1951, ano do incêndio do prédio.
Colabore com sugestões sobre curiosidades históricas, imagens, livros e pesquisas pelo e-mail da coluna (leandro.staudt@rdgaucha.com.br)