Era tarde de quarta-feira e o presidente da República havia recém indicado o nome de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central. No Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez o anúncio em frente à obra de Lia Mittarakis. A despeito da novidade, a definição surpreendia, naquele instante, um total de zero pessoas. Era exatamente o contrário do que se poderia dizer do ar que pairava naquele consultório médico onde estávamos eu, meu irmão e meu pai. Distante mais de 2 mil quilômetros de Brasília, pouco importavam os rumos da política monetária. Eram olhares angustiados pelo veredito do médico, depois de um quadro de febre, tosse e dificuldade para respirar.
Devorei o livro. Foi como um abraço. E, por isso, quis recomendá-lo também a você, leitor
— Tem o câncer e uma suspeita de pneumonia, vamos internar.
Dali em diante, o clichê que acompanha a descoberta de um neoplasia se fez: o chão se abriu. Internar? Quanto tempo? É grave? Tem cura?
Incrível que todas as demais questões ora relevantes descem ao grau de insignificância quando você vê a pessoa que ama diante de um diagnóstico desses. O duelo entre Musk e Moraes, o canetaço que tirou o X do ar, a raiva dos apaixonados por essa ou aquela tese, tudo virou nada depois daquele soco de vida real. Curioso é que o destino quis que, nesse mesmo dia, um embrulho com papel pardo chegasse às minhas mãos. Trazia o livro escrito (e prestes a ser lançado) pelo jornalista Daniel Scola. Eu já havia adquirido a obra, em pré-venda pela internet, mas o Scola se preocupou em me enviar um exemplar de presente. Em suma, ele conta como a vida foi transformada pela descoberta de um tumor no cerebelo.
“Eu precisava levar uma sacudida. Não necessitava ser tão forte, como um câncer. Com isso, pude perceber que, na vida, o que acumulamos e que podemos levar para sempre, sem que nos roubem ou que percamos, são experiências, memórias de momentos e demais riquezas, que são afetivas, não materiais (…) passar mais tempo com a família, almoçar com um amigo, fazer a viagem dos sonhos com a pessoa que amamos, poder parar para desfrutar pequenos prazeres, como ler um livro em paz.”
Devorei o livro. Foi como um abraço. E, por isso, quis recomendá-lo também a você, leitor. No texto, ao justificar a decisão de dividir sua jornada, o autor diz que “toda história que nos marca pode ser usada para mudar a história de outras pessoas”. E é exatamente isso que Aluno da Tempestade fez comigo. Obrigada, Daniel.