Não foi Michelle Bolsonaro, a primeira-dama, ou mesmo o candidato a vice-presidente, Braga Netto, quem apareceu ao lado de Jair Bolsonaro (PL) após o encerramento do debate na Band neste domingo (16). Foi uma figura bastante conhecida dos brasileiros e que chegou a ensaiar um divórcio do projeto bolsonarista: Sergio Moro, com a nítida intenção (de ambos) de mostrar que ele e o capitão estão juntos, rumo ao Planalto em outubro.
O agora senador eleito pelo Paraná, ex-juiz federal que comandou a Operação Lava-Jato e mandou prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), integrava o núcleo principal de campanha que acompanhou Bolsonaro no evento, na noite passada. E não foi só. Encerrado o embate, ambos se posicionaram em frente às câmeras da TV para que o presidente, então, fizesse sua análise sobre o duelo eleitoral aos repórteres.
Chamou a atenção e repercutiu nas redes — em ambos os grupos —, mas é preciso ir além da bolha para entender aquela presença e a repercussão junto ao eleitor.
Bolsonaro precisa reduzir sua rejeição para vencer em 30 de outubro e tem feito esse movimento na direção de grupos em que os índices de desaprovação são consideráveis — as mulheres, por exemplo, e a população nordestina. Basta observar a presença expressiva de Michelle na campanha (percorrendo o Brasil) e as cidades visitadas por Bolsonaro nesses últimos dias. É bastante claro.
Neste mesmo propósito, ele busca reconquistar o eleitor lava-jatista que o havia abandonado quando o próprio Moro deixou o governo, acusando o ex-chefe de descompromisso no combate à corrupção. À época, o então ministro da Justiça saiu disparando contra práticas do governo, mencionou a aproximação com o grupo político centrão e acusou o presidente de interferir na Polícia Federal para proteger sua família de investigações.
Tudo isso ficou pra trás? A política tem dessas coisas. Mas o que é preciso observar aqui é que Moro se propôs ao papel de ser um "ativo" para a campanha de Bolsonaro à reeleição. As pesquisas indicam que a população brasileira escolhe em quem votar muito por conta do compromisso com o combate à corrupção e Moro, goste-se ou não, é um símbolo desta cruzada.
Não à toa, foi citado por Bolsonaro como um dos "responsáveis pelo ressurgimento do Brasil", por ter comandando a operação que apurou desvios na Petrobras: "Graças a Deus tivemos juízes como Sergio Moro", completou, ao lado do senador eleito.
Se a estratégia se mostrará acertada, só saberemos em 30 de outubro. Mas é preciso reconhecer que Bolsonaro dá um passo importante em direção ao eleitor e é provável que, sim, conquiste votos junto à população, em se considerando que a bancada da Lava-Jato venceu nas urnas, com o próprio Moro, a esposa dele e o ex-procurador Deltan Dallagnol. A dobradinha tem tudo para funcionar.