O ataque de Bolsonaro às urnas eletrônicas, ressuscitado nessa segunda-feira (18) em reunião com embaixadores em Brasília, pode parecer estapafúrdio diante da ausência de provas e reiterados esclarecimentos prestados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a lisura e transparência do processo. Mas encontra lógica na estratégia do presidente e seus aliados mais próximos, com vistas à reeleição.
Tal como Donald Trump, há um movimento de preparação do terreno, para que um resultado desfavorável a ele possa ser lido como "eu avisei" e o "o sistema está contra mim", numa espécie de reedição do ato de Trump quando se viu derrotado por Joe Biden nos Estados Unidos.
Trump pode ter sido derrotado, mas o trumpismo não.
Há, além disto, um movimento claro de desvio de atenção dos fatos que lhe são desfavoráveis. O caso do petista assassinado no Paraná havia tomado as manchetes nos últimos dias, e assim também foi nas redes sociais. Como contou o jornalista Gustavo Uribe, na rede CNN, o governo federal tentava fazer o presidente sair do foco com a repercussão negativa da morte de Marcelo Arruda, que fora assassinado durante sua festa de aniversário com o tema do PT.
Ao fazer ressurgir os ataques às urnas, sem provas, e à Justiça Eleitoral, Bolsonaro e aliados conseguiram, enfim, tirar a morte de Marcelo dos trending topics e a reunião com os diplomatas ganhou a atenção, inclusive, de publicações internacionais, como o jornal norte-americano The New York Times.
O caso é mais um em que o presidente se empodera de uma narrativa para tentar emplacar o que lhe cabe, tal como no ataque aos governadores na pandemia, a cruzada contras as medidas restritivas (fazendo pegar o discurso contra o "fique em casa") e até mesmo a rejeição à produção da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan.
Ainda que o discurso não ecoe na totalidade da população, os grupos simpáticos ao presidente entendem que o discurso faz sentido e reverberam o vitimismo anti-sistema. É estratégico. E, tudo indica, não irá parar por aqui,