O deputado federal mais votado do Rio Grande do Sul na última eleição, Marcel Van Hattem, comentou nesta segunda-feira (5) a decisão divulgada em nota pelo partido Novo por apoiar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Em conversa exclusiva com a coluna, Marcel falou sobre o assunto. E disse que os deputados federais sequer foram consultados pela direção nacional da legenda.
Segundo ele, que conquistou 349,8 mil votos na última eleição, os parlamentares apenas foram informados sobre a decisão no fim de semana, sem a possibilidade de uma discussão mais aprofundada ou mesmo uma votação interna para que houvesse a definição de um posicionamento nacional.
Na visão de Marcel van Hattem, por se tratar de um tema de tal relevância (o afastamento do presidente da República), a cúpula do partido deveria ao menos ter ouvido os deputados federais para que então anunciasse uma posição consolidada, a partir das ponderações de seus próprios integrantes.
Ele que até aqui se posicionou contrário à abertura de um processo de impeachment de Bolsonaro, reforçou seu entendimento de que não é o momento adequado para isto:
— Considero que as denúncias, apesar de graves, ainda carecem de materialidade. E, portanto, neste momento não justificariam a abertura de um processo de impeachment, que é um evento traumático para o país. Estamos no meio de uma pandemia, o momento não é para confusão. Além do que, na minha visão, esse pedido de impeachment não se sustenta juridicamente. No caso da questão da prevaricação (Bolsonaro não teria levado adiante denúncias envolvendo irregularidade na compra de vacinas), por exemplo, trata-se de crime comum e não de responsabilidade, por isso o julgamento caberia ao STF, não consolidando um impeachment — explicou.
A visão compartilhada por Marcel junto à a coluna expõe um racha interno no partido Novo. Que, aliás, não é de hoje. Como pano de fundo, dois elementos que se entrelaçam: a postura da legenda diante do governo Bolsonaro e a eleição de 2022.
De um lado, está o fundador do Novo e ex-candidato à presidência em 2018, João Amoêdo, que defende que o Novo assuma uma postura clara contra Bolsonaro e a favor do impeachment. De outro, há uma ala liderada pelo governador de Minas, Romeu Zema, e que incluiudeputado federais e estaduais (Van Hattem entre eles). Para estes, o partido deveria se posicionar como um ente independente, acima da polarização que "tumultua" o país.
À coluna, Van Hattem tangenciou o tema da disputa interna, mas não quis entrar em detalhes:
— Penso que o partido deveria ter ouvido seus próprios deputados. Isso acaba expondo uma divergência que poderia ter sido discutida internamente — complementou.
A favor do impeachment
A coluna também buscou posicionamentos divergentes, que portanto estão em sintonia com a decisão da cúpula do partido Novo: a favor do impeachment de Jair Bolsonaro.
Para o deputado estadual gaúcho Fábio Ostermann, há elementos que justificam, sim, o afastamento do chefe do Executivo.
— Bolsonaro cometeu, ao longo desses dois anos e meio de mandato, diversas condutas enquadradas no rol de crimes de responsabilidade listados na Lei 1.079/50. Natural que um partido como o Novo defenda o rigor da lei e a responsabilização de quem comete crimes. O fato de ser o mais alto mandatário da nação apenas torna os fatos mais graves. Sou favorável ao impeachment — justificou.
O presidente do Novo no RS, Alexandre Araldi, explicou à coluna a decisão que culminou em nota pró-impeachment, divulgada nesta segunda-feira:
— Como é um tema federal, a condução é do diretório nacional, que organizou uma reunião da bancada com os advogados signatários do pedido do Vem Pra Rua para análise do pedido. Sei que o Eduardo, nosso presidente contatou um a um dos deputados e ontem a noite fez reunião com todos os mandatários do Novo. A decisão de apoio ao impeachment ainda não é vinculante, dessa forma esperamos que quem ainda não formou convicção pelo pedido possa fazê-lo dando prioridade ao tema e se posicionando a respeito — detalhou.