Das muitas condutas equivocadas por parte do deputado Daniel Silveira, preso a partir de determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, uma em especial me causa repulsa. E não falo aqui das palavras chulas, mal educadas e da postura grosseira sobre os ministros da Suprema Corte. Nem mesmo sobre a conduta repugnante de quem exalta o arbítrio de atos como o AI-5.
Mas quero atentar ao comportamento do parlamentar quando já estava preso e seria submetido a exame no Instituto Médico Legal (IML).
O vídeo circulou pelas redes. Mas, caso você não tenha visto, descrevo. Daniel chega ao local sem máscara, com uma arrogância singular e tenta constranger uma funcionária do IML. Ao dirigir-se à servidora, diz que é policial e deputado federal e se recusa a usar a proteção recomendada por médicos e especialistas contra a covid-19. Como se sabe, a máscara é exigência básica para se adentrar a qualquer estabelecimento responsável, da farmácia ao supermercado. Mas o deputado resolveu enfrentar a ordem.
— Para a nossa proteção e para a sua, aqui dentro tem que usar máscara — alertou a funcionária.
Em sua postura arrogante e mal educada, o deputado insistiu em não usar, alegando que teria dispensa para tanto. A funcionária insistiu.
— Não existe dispensa — disse.
— Não existe? Não? Eu faço o quê? Rasgo? A senhora não manda em mim não — enfrentou.
Um homem que aparece com um distintivo tentou acalmar o parlamentar, que repito, estava detido pela Polícia Federal naquele momento. Ainda assim, ele resolve se prevalecer sobre a mulher:
— Se a senhora falar mais uma vez eu tiro essa p****. Respeita que não está falando com vagabundo, não. Não fala mais não que eu não vou usar. A senhora é policial eu também sou polícia e aí. Eu sou deputado federal e aí? — despejou.
É neste ponto que gostaria que atentássemos. No país do "você sabe com quem está falando", um deputado federal se sente acima de tudo e de todos. Naquele momento, não existe lei. Para ele, existe um crachá. Sou policial e sou deputado, ele insiste. A funcionária repete que a ordem é para proteção de todos os que frequentam um prédio público.
Que raios de imunidade o deputado pensa ter para se recusar a usar máscara? Não surpreende que dias antes tenha sido retirado de um avião justamente por se negar a fazer o mesmo.
Se queremos avançar enquanto sociedade, é urgente revisitarmos posturas de quem se acha acima do bem ou do mal. Como já sentenciou o ministro aposentado Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, "ninguém está acima da autoridade das leis e da Constituição da República". Como legislador, é mais grave ainda. Daniel Silveira deveria ao menos ter o conhecimento básico de que a Constituição existe para todos. E não para meia dúzia que ele insiste em chamar de vagabundo.
Aliás, é a mesma lei que permite que a prisão dele seja analisada pela Câmara dos Deputados. E, ao considerarmos os últimos acontecimentos, tudo indica que ele não está com esta bola toda por lá.