Assistir às peripécias do presidente da República, Jair Bolsonaro, em sua live semanal não chega a assustar quem está acostumado a cobrir o noticiário político. Em esquetes semanais, háe espaço para leite condensado, sanfoneiro, cloroquina e outros diversionismos. É difícil, contudo, assimilar que o teatro ocorra em meio à pandemia de coronavírus, que só no Brasil já matou mais de 240 mil pessoas.
Mas o presidente não tem culpa sobre o vírus, é verdade.
Contudo, é do chefe do Executivo a responsabilidade sobre organizar e executar políticas públicas de proteção à população. Neste sentido, a agonia de prefeitos e governadores diante da ausência de um calendário organizado é um dos sinais de que o Executivo federal está falhando no enfrentamento à pandemia. Dizer isso é chover no molhado.
Voltemos à live. Nesta quinta-feira (18), o presidente resolveu responder a respeito do aumento expressivo sobre os combustíveis aplicados pela Petrobras. Para se ter uma ideia, em 2021, diesel e a gasolina já acumulam alta de 27,5% e 34,8%, respectivamente. O bolso do consumidor (e você, leitor) sabe bem disso.
Diante da pressão — em especial dos caminhoneiros —, Bolsonaro anunciou que irá zerar os impostos federais sobre os combustíveis como medida emergencial. A ideia é clara: diminuir o preço para o consumidor final.
— A partir de 1º de março não haverá qualquer imposto federal no diesel por dois meses — propagandeou o presidente.
Em que pese a medida possa parecer positiva, a renúncia soa no mínimo estranha diante de um país que sequer encontra recursos para reeditar o auxílio emergencial. A pergunta é simples. A resposta, complexa. Afinal, de onde o governo pretende tirar dinheiro?
Mas não parou por aí. O presidente fez críticas ao que chamou de "aumento excessivo" por parte da Petrobras. E mais: sugeriu, sem entrar em detalhes, que "alguma coisa" acontecerá na petrolífera nos próximos dias. Ora, como se sabe, Bolsonaro e o "posto Ipiranga" Paulo Guedes foram eleitos com a promessa de não interferência na estatal.
— Não posso interferir e nem iria interferir. Se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias, tem de mudar alguma coisa — bradou.
A fala do presidente é uma ameaça? Bolsonaro agirá sobre a estatal? De que forma?
É sabido que Bolsonaro tem um forte ligação com os caminhoneiros desde a época da campanha, mas onde está o presidente que propagava o equilíbrio fiscal? Aliás, por onde anda o ministro da Economia, Paulo Guedes?
O Brasil já assistiu a reflexos recentes de populismo — cortes na conta de energia, interferência na política de preços dos combustíveis — e já viu onde tudo isso pode dar.