O ex-coordenador da Força-Tarefa da Lava-Jato em Curitiba e procurador federal Deltan Dallagnol rebateu nesta sexta-feira (26) críticas e declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes a respeito da conduta à frente da operação de combate à corrupção. No início do mês, o Ministério Público Federal anunciou o fim dos trabalhos do grupo no Paraná (Deltan já havia anunciado sua saída, em setembro de 2020).
Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, Dallagnol voltou a afirmar que o acesso às mensagens (entre procuradores e o ex-juiz Sergio Moro) foi feito de forma ilegal (hackers) e disse que não há como certificar a veracidade dos diálogos. Além disso, classificou como uma "repetição de narrativas" o movimento que tenta desqualificar o trabalho dos procuradores da República que desvendaram o esquema de desvios públicos na Petrobras.
- O que a Lava-Jato fez foi acabar com a impunidade. E, ao acabar com isso, ameaçar o poder e a riqueza de criminosos. São pessoas que desviaram dinheiro público. Roubaram de todos nós. Criminosos. Não é porque é crime de colarinho branco que a gente tem que aliviar - ressaltou.
Dallagnol rebateu a fala de Gilmar Mendes (ao programa Timeline do dia 10 de fevereiro). Na ocasião, o magistrado da Suprema Corte chegou a ironizar, dizendo que a "República de Curitiba acreditou, de fato, ser uma nova república".
Ele também rechaçou a insinuação de que o grupo de procuradores estivesse interessado em obter dinheiro ou "enriquecimento" a partir da Força-Tarefa.
- Na verdade, eu ganho hoje mais fora da Lava Jato do que eu ganhava na Lava Jato. Na Lava Jato a gente é proibido de receber uma verba que é chamada 'verba de acumulação". Trata-se de você substituir uma pessoa que está em férias em outro gabinete, uma pessoa que saiu de licença, por exemplo. Você substitui, aí acumula o trabalho de outro gabinete, e aí ganha um valor mensal adicional. Isso na Lava-Jato não tinha condição de fazer, porque não tinha como acumular trabalho com outro trabalho. Era um trabalho interminável. A verdade, bem a verdade, é que se a gente tivesse ficado fora da Lava-Jato, a gente teria ganho mais, teria ganho uma salário maior do que aquele que a gente ganhou e a gente teria muito menos incômodo e muito menos trabalho - desabafou.
Sobre visões de que os procuradores buscariam acumular recursos através de uma fundação, Dallagnol voltou a rebater com veemência.
- Isso é absolutamente infundado. Vimos uma equipe altamente comprometida com o serviço público, com prestar um bom trabalho para a sociedade, unida para buscar a responsabilização de culpados e a recuperação de dinheiro desviado. Nesta semana tivemos a notícia de mais R$ 800 milhões recuperados, a partir de acordo com uma multinacional. Ou seja, é um trabalho muito consistente. Os resultados falam por si. Podem criar narrativas, mas nada de ilegal foi realizado - completou.