As nádegas do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), aliado em quase união estável com o presidente Bolsonaro, já entraram para a história da política brasileira. A cena descrita em relatório da Polícia Federal é enojante, em muitos sentidos. Contaram os agentes que foram três buscas na roupa íntima do senador até que se chegasse à quantia final. Na última, uma abordagem mais incisiva que foi gravada em vídeo, não revelado para não "gerar maiores constrangimentos" , segundo a PF. Encontraram, pois, R$ 250. Que tempos.
Ainda assim, o mais grave nisso tudo não é o local onde o dinheiro foi cuidadosamente acomodado pelo senador — agora destituído do cargo de vice-líder do governo Bolsonaro. Atentemos ao fato de que a Polícia Federal encontrou indícios de que este nobre parlamentar teria participado de um esquema criminoso responsável por desviar valores destinados à saúde do estado de Roraima para ações de combate à covid-19 .
Sim, caro leitor. O dinheiro escondido na bunda do senador era muito provavelmente fruto de desvios na saúde, área tão carente no Brasil. E mais: desvio de dinheiro e superfaturamento em meio à pandemia de coronavírus. Como assinalou o ministro Luis Roberto Barroso, em seu voto esta semana no STF, desviar dinheiro da saúde não é "apenas" corrupção. É algo maior, que se pode dizer próximo de um assassinato. É preciso falar sobre isso.
O senador pode não lembrar, mas a coluna refresca (a cabeça): são mais de 150 mil mortos por coronavírus hoje no Brasil.
A investigação da PF aponta que as contratações teriam sido fraudadas, com indevida dispensa de licitação, direcionamento, "além de potencial desvio dos recursos públicos". Ora, como pode alguém ter a desfaçatez de tentar enriquecer ilicitamente enquanto milhares agonizam à espera de atendimento pelo Sistema Único de Saúde? É revoltante e como tal precisa ser punido. É repugnante, pra dizer o mínimo.
Em que pese a indignação nacional, os ventos que sopram de Brasília indicam que os senadores estão dispostos a manter o mandato do senador da cueca, mesmo após o afastamento determinado pelo STF (que, sim, precisa ser analisado pelo Congresso). Lamentável. Mas caso seja cassado, não carece o cuequeiro de se preocupar. O suplente do senador é seu próprio filho, em mais uma excrecência nada higiênica produzida pela política brasileira.