Detalhes revelados em um dos capítulos escritos pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta em "Um paciente chamado Brasil" descrevem a pressão do presidente da República para demissão de integrantes da linha de frente do Ministério da Saúde. O livro foi lançado no último dia 25 de setembro. Nele, Mandetta narra seus últimos dias no cargo de ministro do governo Bolsonaro, após semanas pressionado por ser a principal voz na defesa do isolamento social como forma de atenuar efeitos da pandemia.
No livro, Mandetta conta que fora informado por seu chefe de gabinete sobre uma ligação por parte da presidência da República pedindo a exoneração de quatro nomes do ministério. Entre eles, o secretário-executivo, João Gabbardo dos Reis, e o secretário de Atenção Primária à Saúde, Erno Harzheim.
"Com o pedido, já vinham quatro nomes para substituí-los, todos do Rio de Janeiro e sem qualquer experiência em gestão SUS. Não havia sido esse o combinado. Quando assumi a pasta, o presidente me garantira que a escolha da equipe seria de minha responsabilidade. Pedi para falar com Bolsonaro e fui até o Palácio da Alvorada com o Robson (chefe de gabinete) para tentar entender o que estava acontecendo e fazê-lo compreender que aqueles cargos eram peças fundamentais na engrenagem do ministério".
Ainda conforme Mandetta, Bolsonaro teria explicado que a sugestão para exoneração - e a consequente indicação de novos nomes - partiu do filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro.
"Ele alegou que aqueles quatro nomes que estavam no ministério não eram 'gente nossa' e que, por sugestão do filho, Flávio Bolsonaro, queria trocar essas pessoas. Pensei: 'Será que foi um mal entendido ou tem gente do Rio querendo assumir cargos no ministério'. Sugeri que redesenhássemos um organograma para o Rio de Janeiro, dando-lhe maior autonomia orçamentária na administração dos hospitais federais da cidade. Em contrapartida, ele deixaria minha equipe em paz".
Mandetta diz que não era a primeira vez que tentavam derrubar a melhor equipe técnica do Ministério da Saúde dos últimos trinta anos.
"Tentativas de intervenção não eram exatamente uma novidade, mas essa foi a primeira vez que houve um pedido explícito de exoneração".
Gabbardo, que já foi secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, e Erno, ex-titular da pasta na cidade de Porto Alegre, anunciaram seus desligamentos do Ministério da Saúde assim que Mandetta deixou o cargo, depois do desgaste em sua relação com Jair Bolsonaro.
Livro
O livro "Um paciente chamado Brasil", segundo Mandetta, foi escrito na quarentena de seis meses imposta a ministros que deixam o governo federal, conforme informou GZH. O foco principal das críticas no livro é o presidente Jair Bolsonaro, descrito como alguém em negação diante do agravamento do quadro de coronavírus no mundo.