É simbólico que no mesmo dia em que os brasileiros são feitos de bobos na porta das agências do INSS - em meio ao impasse sobre a retomada dos atendimentos presenciais -, o presidente da República encontre justificativa para a injustificável benesse que perdoaria R$ 1 bilhão em dívidas das igrejas.
Bolsonaro vetou o perdão, é verdade. Contudo, disse que se fosse deputado federal votaria pela derrubada de seu próprio veto, ressuscitando, portanto, o ato benevolente. Se assim fosse, os cofres públicos já combalidos abririam mão da receita bilionária a partir da misericórdia conveniente dos congressistas. Vejamos se os parlamentares seguirão o conselho do presidente.
Bolsonaro vetou certo, mas pelo motivo errado. Alegou, em sua conta nas redes sociais, que caso mantivesse o perdão às igrejas (sem indicar de onde sairiam os recursos) estaria sujeito a um "quase certo" processo de impeachment. Ora, senhor presidente, é lamentável que o senhor tenha se esquecido da agenda econômica que o ajudou a chegar ao Planalto, em outubro de 2018. E curioso que esse "esquecimento" esteja justamente relacionado à sua aspiração para 2022.
Caso não recorde - ou não queira fazê-lo, a coluna faz questão de mencionar. Quando da escolha de Paulo Guedes para a Economia, o senhor reforçou o compromisso com o teto de gastos, a responsabilidade com as finanças públicas, o equilíbrio fiscal. A aprovação da Reforma da Previdência caminhou nesta direção, lembra? Aliás, o senhor buscou convencer o cidadão brasileiro de que a medida era importante justamente para garantir equilíbrio e sustentabilidade para um país com déficit estrutural latente.
Onde ficou tal compromisso? Deve estar guardado junto com a Reforma da Previdência para os militares, poupados dos cortes aplicados aos cidadãos comuns.
Faria bem ao país que o chefe do Executivo se preocupasse com o equilíbrio fiscal a fim de assegurar um Estado organizado financeiramente que dê conta de atender aos anseios de seus cidadãos e cidadãs. Como já destacado neste espaço, é incorreta premissa de que há dinheiro sobrando e, portanto, o Estado consegue atender a toda e qualquer demanda. Sob esse raciocínio equivocado, a defesa do equilíbrio fiscal seria antagônica à promoção de políticas públicas, em especial saúde, segurança e educação. A verdade caminha justamente no sentido contrário.
Foi por conta do descuido com gasto público chegamos a uma situação dramática, em especial no caso do Rio Grande do Sul. Por aqui, há tempos as despesas ultrapassam - e muito - os valores somados pela arrecadação. Na prática, sai mais dinheiro do que entra. O resultado? Um rombo nas contas. E principalmente: estradas esburacadas, ausência de investimentos, menos servidores do que o necessário na segurança e isso sem falar no parcelamento de salários do funcionalismo.
É preciso, mais do que nunca, responsabilidade. Mais foco nas contas públicas e na prestação de serviços essenciais aos cidadão brasileiro. E menos, muito menos, em 2022.