Ser jornalista não me faz maior e nem melhor do que ninguém. Me faz trabalhar aos finais de semana, conhecer lugares distintos, cobrir acontecimentos que entram para a história - e também acordar às 3h50min, o que para mim, aliás, não é tão dolorido quanto para a maioria das pessoas para as quais eu explico que preciso dormir cedo. Eu adoro dormir cedo, aliás.
Recebi a confirmação de que entrevistaríamos o ex-presidente Lula há poucos dias, a partir de um talento ímpar e a persistência do jornalista Bruno Pancot. As tentativas se iniciaram em 2014, ano em que o Timeline estreou na grade da Rádio Gaúcha. Eu já havia estado em eventos com a presença do petista, mas essa seria a primeira vez que o abordaríamos na atração que apresento ao lados dos colegas Luciano Potter e David Coimbra.
Uma entrevista exclusiva com um ex-presidente da República tem bastante valor, histórico e jornalístico, e por isso dediquei horas do meu dia para me preparar. Revi filmes e documentários. Assisti entrevistas antigas e outras mais recentes. Telefonei para jornalistas, deputados e amigos que pudessem me ajudar a formar uma compreensão mais ampla de tudo que poderia ou deveria ser questionado. Até o signo de Lula eu fui pesquisar.
Eis que a entrevista aconteceu.
Uma boa entrevista, na minha visão. Fomos incisivos, mas sem perder a ternura. Batemos, questionamos. Não é papel de jornalista amaciar o entrevistado, mas sempre penso em como é importante também deixá-lo à vontade, com respeito ao próprio e ao ouvinte que nos prestigia. Lula falou dos cachorros, da vontade de se casar. Falou de política e das cartas de amor que trocou com Janja. O Timeline, observo, se caracteriza por ser um programa que faz uma conversa, nos moldes de Bial, e não uma inquisição. Tem gente que gosta. Tem gente que não gosta. Paciência. Faz parte.
Ontem, após a entrevista - e não seria diferente - me tornei alvo do ódio disseminado pelas redes (anti) sociais. Por ser jornalista, por ser mulher, por ser loira, por trocar de namorado, por entrevistar um petista, por ser da RBS, por perguntar se Lula roubou. Não quero me alongar sobre a variedade do cardápio de ofensas - sempre penso que minha mãe vai lê-las depois -, mas me ater a esta última questão. Eu perguntei se Lula roubou. Assim, direta. Como também perguntei a Roberto Alvim: "o senhor é nazista?". Também desta forma. Direta.
E por que perguntei isso? Bolsonaristas disseram que era uma pergunta idiota porque Lula roubou, por óbvio. Petistas disseram que era uma pergunta grosseira porque, é claro, ele não roubou. E houve quem me dissesse ainda que a pergunta era completamente sem sentido, porque se ele tivesse roubado jamais me diria.
Mas sabem por que eu perguntei? Porque esse é o papel do jornalista. Perguntar. Para que você, ouvinte e leitor, forme as suas convicções. A gente questiona. O entrevistado responde. Às vezes, o silêncio é resposta. A ira também.
Eu vou perguntar sempre. É da arte, e do ofício.
Perguntar, em pleno século XXI, não deveria ofender. Mas pelo visto, ofendeu. Peço desculpas. Mas vou continuar perguntando.