Vou pedir licença à minha querida Cláudia Tajes para lhe roubar a interpretação que inspira o título desse texto: a careca salvou Queiroz. Se ostentasse uma vasta cabeleira e precisasse meter a mão em um frasco de xampu, observou a Cláudia em artigo publicado nesta segunda-feira (13) na Folha de São Paulo, talvez não tivesse a mesma sorte e permanecesse preso no presídio de Bangu 8, no Rio de Janeiro.
Talvez também não dispusesse da ajuda da esposa para pentear os poucos fios que hoje lhe restam. Sorte dela, Marcia Aguiar. A careca do marido lhe rendeu o benefício da prisão em casa, a partir de decisão do ministro João Otávio Noronha, presidente do STJ, que entendeu que mais do que nunca as mulheres precisam cuidar dos seus amados cônjuges.
Cabe lembrar: Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, é investigado por suspeita de participação em um esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio. No pedido que embasou sua prisão preventiva, o Ministério Público estadual apontou indícios de que ele pode ter sido o responsável por até R$ 286,6 mil em pagamentos e transferências em espécie para cobrir despesas do então deputado estadual e da esposa dele.
Os valores se referem a repasses realizados em 2011 e, principalmente, a pagamentos de mensalidades escolares e do plano de saúde da família de Flávio, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2018. Queiroz, que há meses não dava o ar da graça, foi encontrado e preso na casa do advogado da família Bolsonaro Frederick Wassef, que afirmou à Rádio Gaúcha em abril conhecer absolutamente "tudo que tramita na família do presidente".
É pouco?
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta que Queiroz movimentou em sua conta corrente R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017. Mas, sorte dele, não precisou movimentar xampu. Depois, disso o Coaf foi retirado pelo pai de Flávio das mãos do então ministro Moro e repassado ao titular da Economia, Paulo Guedes. Porque importa, de fato, acabar com isso daí.
Trazemos a higiene capilar como referência porque, como lembrou Tajes, "menos sorte que o Queiroz teve o rapaz que furtou dois frascos de xampu, dez contos cada um". É que este homem que roubou os tais frascos teve sua prisão domiciliar negada por não ser a primeira vez que praticava a conduta criminosa. A decisão do STJ (onde atua o ministro Noronha) foi referendada pela ministra Rosa Weber, do STF.
Mas Queiroz está doente, apontam alguns. Diga isso à família do ex-deputado Nelson Meurer, primeiro parlamentar condenado pelo STF na Lava Jato, que testou positivo para a covid-19. A defesa havia argumentado pela prisão domiciliar junto ao STF, alegando doenças pré-existentes, idade avançada e a confirmação de ter contraído o novo coronavírus.
Assim como o homem do xampu, Meurer não obteve o benefício.
É que Meurer não era Queiroz. E morreu neste domingo, na cadeia.