A pandemia vai nos fazer ser humanos melhores, disseram.
Desde lá, uma noiva com casamento marcado em um resort no Caribe pediu auxílio emergencial de R$ 600 destinado a brasileiros que perderam emprego por conta do coronavírus, ou tiveram sua renda diminuída e sofrem dificuldades inclusive para conseguir se alimentar. Questionada pelo excelente Giovani Grizotti, tentou impedir a divulgação da reportagem com pedido - aceito, em primeira instância - de censura prévia à Justiça.
Em outro canto, em São Paulo, um socialite sentada no sofá reclama dos que "escolheram" permanecer nas ruas, um lugar, como se sabe, com muitos atrativos e para onde todos nós sonhamos em nos mudar com filhos na posteridade, para oferecer conforto e alegria à família.
- A rua hoje é um atrativo - ponderou a amiga.
Quem discorda?
No Rio, o Leblon ficou cheio no primeiro dia de reabertura de bares e restaurantes. No lugar das máscaras, arrogância. E a Barra, enciumada, não deixou por menos. Sobrou para o profissional pago com dinheiro público que tentava apenas cumprir a tarefa que lhe foi dada de proteger a vida, evitando aglomerações.
Engenheiro civil formado, neste caso, virou "muito mais do que você".
Ironicamente, a ignorância vociferada pela mulher ao lado do tal engenheiro esbarrou na realidade. O fiscal a quem ela se dirigiu é simplesmente o superintendente de educação e projetos da Vigilância Sanitária, Flávio Graça - que, por sinal, tem mestrado e doutorado.
Os três episódios narrados acima são apenas pequena parte (visível) do comportamento de um povo mal educado e que arrota preconceito com orgulho. Não se contentam em negar uma pandemia que já matou mais de 65 mil brasileiros. Gostam mesmo é de esbanjar ignorância, mau comportamento e desaforo.
A pandemia nos fez piores? Não acredito. Mas a realidade hipermoderna expôs velhos comportamentos que por muito tempo permaneceram velados, agora expostos em vídeos, fotos e escritos nas redes sociais.
E nem deu tempo de mencionar a patroa que desdenha da vida do filho da empregada ou do empresário que grita na cara do policial - "Aqui é Alphaville, mano!". Triste reflexo de um país que não possui sequer ministro, que dirá política para educação de seu povo.