Youtuber que ganhou destaque na capa do The New York Times há poucos dias, com críticas ao presidente Jair Bolsonaro e sua política de enfrentamento à pandemia de coronavírus, o brasileiro Felipe Neto voltou ao centro da roda política nas redes sociais nesta segunda-feira (27). O motivo: seu nome foi incluído, segundo ele, em mais de 400 vídeos nas plataformas Instagram e Facebook, relacionando o conteúdo de seu canal no Youtube à pedofilia. O desabafo de Felipe teve repercussão imediata.
Os vídeos, esclareceu Felipe, foram derrubados por violação das diretrizes das plataformas.
Mas afinal por que isso interfere nas nossas vidas?
É preciso voltar um pouco no tempo e se debruçar sobre a rede perversa de ataques e de notícias falsas que tem se mostrado cada vez menos improvisada; e mais dotada de técnica, método e financiamento. Vem desde a campanha eleitoral - e não somente no Brasil, mas também quando da escolha por Donald Trump para governar os Estados Unidos. O tema é tão delicado que virou alvo de investigação em um inquérito instaurado no Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
No episódio mais recente, Moares determinou às plataformas que fossem suspensas as contas de apoiadores do presidente, entre eles o ex-deputado condenado no mensalão Roberto Jefferson e o empresário Luciano Hang, da rede de lojas Havan. O próprio presidente informou que recorreria da decisão através da Advocacia-Geral da União.
É importante admitir questionamentos sobre os fundamentos jurídicos quando da instauração do inquérito das fake news (de ofício, no STF), mas não é possível fechar os olhos a um sistema organizado de destruição de reputações, ameaças de violência física, agressões explícitas e ofensas à honra dos mais diversos personagens, em especial aqueles que ousam criticar a extrema direita. Tem método. E, apura o inquérito, pode até haver utilização irregular de recursos públicos.
Não é preciso ter formação médica para compreender, num raciocínio simples, que o chamado "gabinete do ódio" é prejudicial à saúde de quem é atacado. Mas também à democracia brasileira.
O ódio espalhado pelas redes (anti) sociais não nos ajuda a compreender diferentes pontos de vista, nem mesmo avançar quanto a discussão de temas urgentes para o país. Pelo contrário. Ao vociferar qualquer que seja o ponto de vista, promovendo uma política de linchamento do oponente, você contribui para um sistema político muito distante daquele que chamamos de regime democrático. O nome disso é outro.
Sendo assim, é preciso apuração rigorosa sobre aqueles que se escondem covardemente atrás de perfis inventados para este fim. E, nesse caso, não há cloroquina que resolva. O remédio tem que ser a punição judicial severa.