As falas do presidente Jair Bolsonaro e do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, a respeito de vândalos infiltrados nas manifestações contrárias ao governo carecem de atenção. Bolsonaro qualificou pessoas nas ruas como "marginais" e "terroristas", enquanto Mourão os adjetivou de "delinquentes". Com entusiasmo singular, que lhe é característico, o presidente defendeu o uso da força para frear as manifestações e afirmou, em frente ao Palácio da Alvorada, estar em busca de retaguarda jurídica para atuação policial contra os grupos.
É óbvio - mas precisa ser repetido - que quebra-quebra, vandalismo e saques praticados por grupos radicais devem ser punidos. Ninguém há de concordar com aqueles que incendeiam e depredam patrimônio público. Contudo, é curioso observar que o repúdio expresso nas palavras do chefe do Executivo tenha vindo somente na direção de grupos que marcham contra o seu governo.
Onde estava Jair Bolsonaro quando grupos pediram intervenção militar e a edição de um novo AI-5? No meio deles. Onde estava o titular do Palácio do Planalto quando armas foram encontradas dentro de um grupo acampado em favor do governo? Nenhuma palavra. E o que disse o presidente quando pessoas marcharam em direção ao Supremo Tribunal Federal em imagens que lembraram os supremacistas brancos da Klu Klux Klan? Silêncio.
Não à toa, o decano do Supremo, ministro Celso de Mello, alertou para o que chamou de "ovo da serpente", que estaria "prestes a eclodir no Brasil" (em referência à ascensão de Hitler). O ministro clamou a importância de "resistir à destruição da ordem democrática". Ao que foi chamado de "intelectualmente desonesto" pelo vice-presidente.
A estratégia clara de Bolsonaro de chamar a atenção para o vandalismo e inflar seu grupo de apoiadores contra os manifestantes produz efeitos, como já antes visto. Vozes ecoam por repressão e autoritarismo. Enquanto isto, o centrão emplacou mais dois indicados: um para o cargo de diretor-presidente e outro para a diretoria de Infraestrutura de Chaves Públicas do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação. Uma pena que a pátria estivesse distraída.