O encerramento do ano na Assembleia Legislativa recebeu um discurso emocionante e que deveria servir de inspiração na formulação de políticas públicas que promovam o combate ao preconceito, ao racismo e a discriminação em suas diversas formas na sociedade brasileira. A fala veio do ex-jogador do Grêmio e atualmente técnico do Bahia, Roger Machado, que recebeu das mãos do deputado Valdeci Oliveira (PT) a Medalha do Mérito Farroupilha, a maior honraria concedida pela Parlamento gaúcho.
A homenagem, realizada na última sexta-feira (20), teve como pano de fundo uma outra fala de Roger, após partida pelo Campeonato Brasileiro, no mesmo teor de chamar a atenção para a necessidade de combate ao racismo. Foi em 12 de dezembro. Na ocasião, Roger Machado, 44 anos, surpreendeu ao fazer um manifesto forte contra a discriminação racial dentro e fora do futebol.
— O Brasil é um país maravilhoso, mas precisa parar de negar que o racismo existe — observou Roger.
Ao receber a medalha Roger afirmou que a política deve, sim, se unir ao futebol. Não enquanto "política partidária", ressaltou, mas como "arte de dialogar" sobre temas relevantes para a construção de uma sociedade mais justa e com menos discriminação. Sobre o discurso que motivou a concessão da homenagem, Roger relatou ter recebido mensagens que exaltavam sua coragem, outras com agradecimento e algumas até com alerta para possíveis "represálias" por conta da força da fala posicionada. A esses, Roger disse que não esmoreceria. E que, ao adotar postura em temas como esse, não é possível admitir retrocessos.
— É um caminho que não tem volta. Porque se em algum momento no futuro nós nos ausentarmos da luta, seremos cobrados. Então devemos sempre seguir brigando por igualdade, defendendo minorias que necessitam ser cuidadas. E maior exemplo que eu gostaria de deixar para as minhas filhas, através da educação pelo exemplo, é o exercício da empatia. Quer dizer, por mais que o problema não nos atinja diretamente, nós temos o dever de olhar para aqueles que têm menos — defendeu.
Roger repetiu, no discurso, a necessidade de que sejam adotadas ações de combate ao racismo, em especial sobre a discriminação que não é escancarada e que vem disfarçada em situações recorrentes do cotidianos.
— É importante que a gente siga combatendo o racismo, o preconceito que está mascarado, também em outros gêneros, outras facetas, para que a gente tenha um país melhor, mais igualitário. Não é possível que um país que foi construído em cima de uma mão de obra escravizada, subjugada, humilhada, e com esse modelo que se repete hoje em dia de outras formas, que ele possa de fato ser uma democracia. Existe um mito da democracia racial no Brasil. E para que a gente consiga entender, temos que olhar para o passado, dialogar com esse passado para corrigir o presente. O Brasil é um país maravilhosos, mas precisa parar de negar que o racismo existe — acrescentou.