A live semanal do presidente Jair Bolsonaro costuma produzir pérolas que levam à loucura seus apoiadores e fazem ecoar suas peripécias mais criativas pelas redes sociais. Na última quinta-feira (29), ao lado do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, Bolsonaro atacou o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), pela compra de jatinhos com dinheiro do BNDES e insinuou que o tucano tinha simpatia pelo comunismo, com bandeira vermelha, foice e martelo.
Ainda durante a transmissão, disparou um "iuhuuu", que fez o sisudo general Heleno dar risada e ainda anunciou que trocaria a caneta BIC pela Compactor porque, né, ela é francesa.
Dias antes, o presidente já havia manifestado a jornalistas, no Palácio da Alvorada, que não ofendeu a esposa do colega francês, Emmanuel Macron, depois de ter soltado um "não humilha... kkk" quando um seguidor comparou fotos de Brigitte Macron e Michelle Bolsonaro, interpretando ser essa a razão das reações de Macron a respeito das queimadas na Amazônia.
"Se vocês insistirem nessa pergunta, vou acabar a entrevista, ta ok". E assim o fez.
Do outro lado do espectro político brasileiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso após ter sido condenado na Operação Lava-Jato, dedicava seus esforços a responder às perguntas formuladas pela repórter Mariana Schreiber, da BBC, dentro da superintendência da PF, em Curitiba. Nesta semana, Lula completou 500 dias de prisão e reafirmou, à jornalista, sua inocência.
Questionado sobre o comportamento — inadequado e desrespeitoso, observe-se — dos procuradores da força-tarefa a respeito de seus familiares e o pedido de desculpas de Jerusa Viecili, Lula disparou que eles deveriam pedir desculpas a milhões de brasileiros que perderam seus empregos – veja só – por causa do Ministério Público Federal. Hein?
E os erros na condução da política econômica durante os governos petistas? Foram parar onde? Desapareceram. De certo, foram encontrar com Queiroz.
A Lava-Jato, com erros e acertos, recuperou milhões de reais aos cofres públicos, levou à cadeia dezenas de políticos e empresários que por anos se uniram em um conluio que sangrou os cofres públicos. Mas Lula acha que a culpa é dos procuradores.
Neste raciocínio, o desemprego seria mesmo consequência de um trabalho que investigou e desvendou um dos maiores esquemas de corrupção da história do país? Francamente.
Ainda na entrevista — que merece ser lida até o fim — Lula põe em dúvida a facada que atingiu o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, com a mesma quantidade de argumentos bem fundamentados que este Bolsonaro utilizou para dizer que as ONGs foram responsáveis por botar fogo na Amazônia: zero.
E assim ambos construíram suas teses aplaudidas e difundidos por milhares de apoiadores. Tão distantes em conteúdo e tão iguais em forma. Devem achar que somos idiotas. Ou, na pior das hipóteses, eles têm certeza.