Em um passado não tão distante, as mulheres eram consideradas apenas extensão de seus maridos, não podiam usar calças e sequer tinham direito a voto. Em um presente desesperador, ganhamos menos do que nossos colegas, somos xingadas no estádio por sermos mulheres e, se bobear, podemos ser mortas pelos companheiros antes de chegar em casa.
Que tempos. Já teríamos motivos demais para lutar por igualdade e — vejam só — não queremos ser mais do que ninguém. Só desejamos ser iguais. E, de preferência, não morrer.
Pelo visto, considerados episódios recentes, é pedir demais. Jogue a palavra feminicídio no Google. Não faltarão casos. E a lei? Pois bem. Noticiamos em fevereiro deste ano que o homem acusado de tentar matar a companheira e de decepar as mãos dela durante uma discussão em São Leopoldo, no Vale do Sinos, aqui no Rio Grande do Sul, teve a pena reduzida pela Justiça gaúcha, em julgamento de apelação no dia 31 de janeiro.
Sim, você leu certo. Re-du-zi-da. Note-se, o homem tentou matá-la porque, né, estava inconformado com o fim da relação. Oremos.
Neste mesmo ano, 2019, com o bom humor (!) que lhe é característico, um presidente de uma nação com 200 milhões de habitantes, que ostenta a triste marca de 13 milhões de desempregados, utilizou as redes sociais para atacar o chefe do Executivo de outra nação. Argumentos econômicos? Políticos? Mas que nada. Deboche de fazer corar alunos da quinta série. Em uma imagem postada, Jair Bolsonaro debochou da esposa do francês Emmanuel Macron, em uma foto em que foram comparadas as primeiras-damas, Michelle e Brigitte — como se suas características físicas fossem um trunfo do macho bem—sucedido. Francamente.
Sua esposa Michelle, aliás, merece muitos elogios, presidente. Porque é dela a luta por uma comunidade historicamente esquecida, que vai desde as crianças com doenças raras às pessoas com deficiência, passando pelo histórico discurso da cerimônia de posse em 1º de janeiro feito em Língua Brasileira de Sinais. Foi Michelle, aliás, quem batalhou para que o governo federal liberasse a medicação utilizada em pacientes com AME (Atrofia Muscular Espinhal) uma das notícias mais lindas do governo Bolsonaro, em especial para essas famílias.
Voltemos ao deboche machista. O presidente francês, Emmanuel Macron, reagiu nesta segunda ao episódio e disse que espera que os brasileiros tenham, logo, um presidente à altura do cargo. Como Bolsonaro não se desculpou com Brigitte Macron, uma mulher descrita como inteligente, companheira e conselheira, coube a cantora Gretchen — em francês — chamar a atenção de seus quase 100 mil seguidores, pedindo perdão pelo que fez Bolsonaro. E, ao fazê-lo, usou da sororidade que tanto precisamos que prevaleça entre as mulheres. Em francês, sintetizou: "Perdão Emmanuel Macron, Brigitte é uma mulher maravilhosa e brilhante".