O presidente Jair Bolsonaro tentou amenizar nesta sexta-feira (30) o tom de suas críticas ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pela compra de um jatinho com juros subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante os governos federais do PT. Em entrevista, ele disse que sua posição em relação ao negócio feito pelo tucano "não é nada pessoal".
— Não estou atacando em hipótese alguma o João Doria, estou mostrando a realidade — disse.
Bolsonaro, no entanto, procurou novamente vincular Doria às gestões petistas. O tucano é potencial adversário dele nas eleições de 2022 e tem feito uma série de críticas indiretas à atuação do presidente.
— No passado, quem era amigo do PT tinha facilidade no governo. Não foi ilegal a compra do jatinho dele, por R$ 40 milhões. Imoral é a taxa de juros, porque, com todo o respeito, se você precisasse fazer a mesma coisa, não ia conseguir. Não era amigo do rei — comentou Bolsonaro.
Um dia antes, o presidente disse em um vídeo que Doria havia "mamado nas tetas do BNDES", em referência à compra de jatinho a juros subsidiados do BNDES. O governador de São Paulo reagiu nesta sexta, na Alemanha.
— Nunca precisei mamar em teta nenhuma. Não vou entrar nessa polêmica — afirmou.
— Essa informação (sobre a compra do jatinho) já era pública. Já tínhamos comprado, assim como o Luciano Huck, e não tinha nenhuma caixa preta — disse Doria, citando o apresentador de TV, que também é visto como possível candidato nas próximas eleições presidenciais.
Doria também reagiu à declaração de Bolsonaro de que é "amigão do Lula, da Dilma".
— Quero Lula e Dilma distantes, se possível do Brasil, até. Que fiquem onde estão, Lula na prisão e Dilma no ostracismo.
Jatinhos
O BNDES divulgou neste mês uma lista com 134 contratos de financiamento de jatos executivos da Embraer a juros subsidiados, no valor total de R$ 1,9 bilhão.
A empresa Doria Administração de Bens, do governador paulista, é uma das citadas, com um empréstimo de R$ 44 milhões. Segundo o governador, o financiamento é normal como parte de uma competição internacional e garante empregos e investimentos no Brasil.
Já Huck pegou R$ 17,7 milhões com o BNDES por meio do Finame (Financiamento de Máquinas e Equipamentos). O empréstimo se deu em 2013 por meio da empresa Brisair, da qual é sócio junto com sua mulher, Angélica.
Huck disse, em texto enviado à coluna da Mônica Bergamo na semana passada, que o empréstimo que fez junto ao BNDES para comprar um avião foi "transparente, pago até o fim, sem atraso".
Não há indícios de ilegalidades nos empréstimos, o que Bolsonaro reconheceu no vídeo.