Pedir perdão é sempre um gesto nobre. Não apaga o que foi dito, claro. Mas é preciso ter coragem para reconhecer — e admitir — um erro. Cobra-se, por exemplo, do presidente Jair Bolsonaro que peça desculpas pelas declarações atabalhoadas e preconceituosas que disparou nos últimos dias a respeito das queimadas na Amazônia. E por ter ofendido a esposa de um chefe de Estado ao julgá-la pela beleza e condená-la pela sua idade. Ou, por outro lado, cobra-se da esquerda e do ex-presidente Lula, preso em Curitiba, que reconheça seus erros e admita uma série de irregularidades cometidas em governos petista. O mea-culpa, em ambos os casos, não veio.
Passava das nove horas da noite quando a procuradora da Operação Lava-Jato Jerusa Viecili, ao contrário de seus colegas, tomou coragem de admitir que passaram dos limites as mensagens em que ela e os colegas ironizaram a morte de familiares do ex-presidente. "Errei", publicou Jerusa. E, por este motivo, ela acrescenta: "minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas". De fato, ironizar a morte de quem quer que seja é cruel, desumano e nos afasta da empatia que tanto precisamos para construção de um mundo mais fraterno. Jerusa reconheceu. E pediu desculpas. O ex-presidente, preso em Curitiba, havia se manifestado antes da publicação de Jerusa: "Peço a Deus que ilumine essa gente, que poupe suas almas de tanto ódio, rancor e soberba".
As mensagens são assustadoras pela frieza e crueldade e merecem repúdio. Sublinhe-se, aliás, que não anulam nem enfraquecem as acusações que pesam contra o ex-presidente. Em entrevista recente ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o procurador da força-tarefa Antonio Carlos Welter reiterou a ideia, defendida pelo Ministério Público Federal, de que vários crimes foram cometidos com a ciência e participação de Lula. "Ele foi durante muito tempo presidente da República e ele permitiu e agiu pra que se organizasse dentro do governo, do qual ele era presidente, uma estrutura criminosa que ao fim beneficiou ele e algumas outras pessoas", acrescentou.
Voltemos às mensagens. Seria prudente que os demais colegas seguissem o exemplo de Jerusa. Um pedido de desculpas não atenua a gravidade do que foi escrito e nem apaga a crueldade das manifestações. Denota, no entanto, humildade e humanidade . Algo que nosso país está tão sedento e necessitado nos dias de hoje.