A divergência exposta na fatídica reunião do dia 22 de abril, aquela revelada após a demissão de Sergio Moro do governo, entre Paulo Guedes e Rogério Marinho, se aprofundou nas últimas semanas. O primeiro, titular da Economia, defende rigor quanto ao ajuste fiscal e austeridade sobre o gasto público. O segundo, mais alinhado às costuras políticas, está à frente do Desenvolvimento Regional e argumenta pela expansão dos gastos, como forma de promover a economia e turbinar a popularidade do presidente.
Nos bastidores, auxiliares presidenciais já falam em "irreconciliável" ao se referir à relação entre Guedes e Marinho, como assinalou o colunista Gerson Camarotti na Globonews.
As discussões se aprofundaram em especial depois da péssima repercussão das formas de financiamento do programa Renda Cidadã (incluindo o uso de recursos do Fundeb e de precatórios), anunciado pelo presidente há poucos dias como substituto do Bolsa Família. A reação do mercado incluiu queda expressiva na bolsa de valores de São Paulo, elevação do chamado Risco Brasil e disparo na cotação do dólar. Para especialistas, foi interpretada como um sinal de abandono do compromisso fiscal.
O último capítulo da confusão incluiu a informação de que o ministro do Desenvolvimento não teria poupado críticas ao titular da Economia, em uma teleconferência fechada da Ativa Investimentos nesta sexta (2) com alguns agentes do mercado. O fato foi revelado pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Guedes rebateu a seu modo. Disse não acreditar que o colega tenha se comportado desta forma. Contudo, admitindo a hipótese de Marinho tenha falado mal dele, o ministro classificou a postura como "desleal".
— Não acredito que Marinho falou mal de mim. Se falou mal, isso mostra que ele, em primeiro lugar, é despreparado, além de desleal e fura-teto — disse o ministro ao chegar à sede da pasta, após reunião no Palácio do Planalto.
A crise, além de trazer problemas internos para Bolsonaro, implica em reflexos econômicos. Faria bem o presidente se sinalizasse um compromisso verdadeiro com a responsabilidade econômica, sem descuidar dos mais vulneráveis duramente penalizados pela pandemia.