O presidente Jair Bolsonaro reagiu atirando às críticas que recebeu sobre o novo programa social anunciado nesta segunda-feira (29) pelo ministro Paulo Guedes e sua equipe econômica. De acordo com o presidente, as críticas partiram de "adversários e grande parte da imprensa", que segundo ele rotularam a ação como "eleitoreira". Ao fazer tal avaliação, contudo, o presidente esconde o principal. A crítica veio justamente por parte de economistas liberais e do mercado financeiro - que apoia a agenda liberal do presidente desde a campanha eleitoral.
Para especialistas, o anúncio do programa foi interpretado como um sinal de abandono do compromisso fiscal. E não foi a imprensa quem disse. Basta observar os números do mercado financeiro: no pior nível desde junho, a Bovespa fechou em queda com temor de piora fiscal. O Risco Brasil, por sua vez, subiu 70 pontos-base ao longo do dia. Já o dólar fechou a segunda-feira (28) em R$ 5,63.
O principal ponto atacado pelos críticos foi a opção de financiar o Renda Brasil através do pagamento de precatórios. Nesta perspectiva, o Executivo estaria postergando o pagamento, gerando uma dívida para futuras gerações. Tudo isto, para que o teto de gastos pudesse ser "artificialmente" mantido. É este o ponto. Aliás, em que pese a tentativa de empurrar a culpa para a mídia e para os adversários, Bolsonaro sabem bem disso.
Tanto é que, em sua manifestação nas redes sociais, o presidente voltou a dizer que "a responsabilidade fiscal e o respeito ao teto são os trilhos da Economia". Não é o que parece. Nos bastidores, os próprios integrantes da equipe econômica reagiram.
Contou o repórter Igor Gadelha, da rede CNN, que avaliação da ala mais liberal da pasta entendeu que usar precatórios para bancar o Renda Cidadã seria, na prática, financiar o programa social com mais dívida. "Eu quase recolhi minhas coisas e me despedi de Brasília", afirmou um secretário da equipe econômica ao jornalista.
Pelo que se viu até aqui, as críticas ao plano de Bolsonaro e os apontamentos sobre o descompromisso com o teto de gastos (e, por consequência a irresponsabilidade fiscal) estão mais próximos do que o presidente tenta sugerir.