Chegou até Lisboa, na Fundação José Saramago, a história contada aqui na coluna, nesta semana, sobre a entrevista a "Zero Horas" (assim mesmo, com "s"), marcada em uma antiga agenda do escritor.
Diretor de comunicação da instituição, o brasileiro Ricardo Viel disse que Saramago tinha uma "forte ligação" com o Rio Grande do Sul e que gostava muito do Estado, onde esteve seis vezes e fez amigos.
Uma das visitas foi registrada no dia 24 de abril de 1989 pelo autor. A anotação ("Entrevista Zero Horas") chamou a atenção do jornalista Ricardo Gandour, ex-membro do Conselho Editorial de ZH, durante um passeio pela fundação.
Aquela conversa (com o então repórter Juremir Machado da Silva) deu origem a uma reportagem de uma página inteira, publicada em 26 de abril do mesmo ano.
— Acredito que aquela foi a primeira vez de Saramago no Rio Grande do Sul. Depois, ele retornou em muitas outras ocasiões. Foi à Feira do Livro de Porto Alegre, recebeu o título de Doutor Honoris Causa na UFRGS e participou do Fórum Social Mundial. Tinha muitos amigos e conhecidos no Estado — conta Viel.
A proximidade era tanta, segundo o diretor, que, quando as herdeiras do autor (falecido em 2010) souberam da catástrofe climática no Estado, em maio deste ano, decidiram agir. Pilar, que é ex-companheira de Saramago e hoje preside a fundação, e a filha dele, a Violante, imediatamente entraram em contato com a Companhia das Letras (editora de Saramago no Brasil) para ajudar.
— Tanto as herdeiras quanto a fundação entenderam que era hora, de alguma forma, de retribuir todo o carinho que o Rio Grande do Sul teve com Saramago — destaca Viel.
Sobre a marcação na agenda de 1989, ele conta que há, no momento, apenas duas delas (são dezenas, porque Saramago era bastante organizado) em exposição.
— Achei muito curioso vocês encontrarem essa anotação sobre a entrevista. Foi uma feliz coincidência — conclui o brasileiro.