Estamos nos transformando na única espécie, no único organismo vivo do planeta Terra, que conspira para sua própria extinção. A frase não é minha. É de um dos neurocientistas mais respeitados no mundo, o brasileiro Miguel Nicolelis, em entrevista recente ao Estadão (veja o vídeo no fim do texto).
Professor emérito da Universidade Duke, nos Estados Unidos, Nicolelis estuda os mistérios do cérebro humano há 40 anos e tem feito sucessivos alertas sobre o que chama de “abstrações mentais deletérias para a nossa espécie que nós próprios criamos” (ele também tem advertido, por exemplo, sobre os riscos da IA). Sem meias palavras, o pesquisador diz o seguinte:
— Esquecemos que somos parte de algo muito maior. Somos uma fagulha de poeira no cosmos, cheio de riscos e fenômenos naturais que não controlamos.
A tese de Nicolelis é de que construímos a nossa sociedade sobre um “castelo de cartas”, porque esquecemos, diferentemente dos egípcios, dos mesopotâmicos e de outras civilizações pretéritas, que o mundo natural não está sob nosso controle.
Acreditamos dominar a natureza e temos a convicção de que, com a nossa engenhosidade e capacidade inventiva, podemos tudo, sem limites, mas os recentes eventos climáticos provam que não é bem assim.
Temos enfrentado estiagens prolongadas, enchentes avassaladoras e, agora, essa fumaça tóxica que empesta o céu sobre o Brasil - e que, desde o início da semana, chegou ao centro do poder.
Com Brasília mergulhada na bruma tóxica das queimadas inconsequentes, o presidente Lula finalmente determinou aos ministros a elaboração de um pacote com novas medidas contra a crise e convocou os chefes dos poderes para debater o tema.
Que as ações não sejam apenas mais promessas vazias ou “fogo de palha”, com o perdão do trocadilho infame. E nós? É hora de entendermos, de uma vez por todas, que não somos deuses.