E nós que pensávamos — ingênuos — que, com o fim da pandemia do coronavírus, as famigeradas máscaras ficariam guardadas na gaveta, bem longe, apenas para o caso de alguma emergência (que, com alguma sorte e reza brava, não viria). Ledo engano. Elas voltaram.
Os equipamentos de proteção estão outra vez na face das multidões neste Brasil revirado do avesso pelas queimadas. A diferença é que a epidemia, agora, não é provocada por um vírus letal, sorrateiro e invisível, mas por incêndios florestais escancarados e fora de controle, em sua maioria de origem criminosa.
Os efeitos tóxicos dessa névoa esquisita, carregada de fuligem e que parece não se dissipar nem mesmo com a chuva (preta!) está superlotando as emergências do país. Estamos provando o gosto amargo do nosso próprio veneno e de anos e anos de omissão.
Não há mais subterfúgios: a poluição causada por humanos nos pegou de jeito, agravando crises de asma e bronquites. E não é só na Amazônia, não. É aqui mesmo, em Porto Alegre.
Nessas horas, a gente se dá conta, na prática, de que a crise ambiental não tem fronteiras políticas ou geográficas: ela é do planeta. Não é “do outro”. É de todos nós.
P.S.: saudade do tempo em que a fumaça, no mês de setembro, era apenas um sinal das churrascadas e dos folguedos nos acampamentos farroupilhas espalhados pelo RS.
Uma frase
Se a natureza fosse um banco, já teria sido salva.
EDUARDO GALEANO
No livro Os filhos dos dias (L&PM, 432 páginas). Morto em 2015, o escritor uruguaio foi um crítico contumaz da exploração desenfreada do meio ambiente. A frase acima “ressuscitou” nas redes sociais nesta semana.