Seis desconhecidos encontram-se para um jantar misterioso. É quarta-feira, e o relógio marca 20h. Parece enredo de romance policial manjado, mas é a realidade.
Desde março, um aplicativo chamado Timeleft, criado em Portugal e presente em 33 países, reúne estranhos ao redor da mesa em restaurantes de 11 cidades brasileiras. Inclusive aqui, em Porto Alegre.
Como era de se esperar, o tal app já ganhou até apelido no Brasil: Tinder gastronômico. Tinder, você sabe, é aquela plataforma de namoro online. Se der “match”, o relacionamento ganha contornos reais.
O Timeleft é parecido, só que tem comida no meio e mais gente envolvida. A promessa é conectar pessoas através da gastronomia, em restaurantes descolados, sempre às quartas-feiras, no mesmo horário.
A experiência pode terminar de diferentes formas: em namoro, em amizade ou em “festa estranha com gente esquisita”, tipo aquela música da Legião Urbana. Pode ser apenas um bom prato e uma noite casual para um ser solitário. Ou nem isso.
Instalei o aplicativo no celular e li a introdução. “Participe de jantares com cinco estranhos incríveis”, diz a propaganda (sim, eu pensei o mesmo que você!).
Bem, aí é preciso criar uma conta, escolher a localidade e responder um questionário, espécie de “teste de personalidade”, com perguntas, digamos, bem ecléticas.
“Vê-te mais como uma pessoa inteligente ou divertida?”, indaga o app, com o típico acento lusitano (que dá um ar formal à brincadeira). Ou ainda: “Se a sua vida fosse uma declaração de moda, seria ela clássica e atemporal ou moderna e expressiva?”. Dúvidas, muitas dúvidas.
Depois, vêm questões mais comuns, criadas para evitar incompatibilidades trágicas em tempos extremistas. O app quer saber, por exemplo, se você gosta de humor politicamente incorreto, se tem religião e com quais visões políticas se identifica (são umas 10 opções).
Na sequência, as interrogações envolvem o menu preferido (carne, peixe, vegetariano, vegano, etc.) e o quanto você está disposto a gastar com a refeição, entre outros detalhes.
“Deixa-te levar por um mundo social longe dos ecrãs. Abre-te aos outros sem quaisquer expectativas”, sugere o programa, antes de, finalmente, propor um encontro às cegas. A composição do grupo é definida por um algoritmo treinado para detectar preferências similares.
Ao final, se você clicar em “reservar um lugar”, será preciso pagar pelo serviço. O preço para participar de um encontro é R$ 39,99, mas também há opções de pacotes. Só depois disso você recebe mais informações, ou melhor, “pistas” sobre os convidados (para não estragar a surpresa), como o signo e a profissão de cada um. O local do compromisso é revelado apenas na manhã do jantar. É quase um Kinder Ovo.
Imagino que você tenha lido até aqui para saber se, afinal de contar, eu testei. Preciso confessar que não tive coragem.
E se a comida for ruim? E se eu não gostar das pessoas? E se... Contive meus ímpetos e não cliquei. Mas, em nome do bom jornalismo, vou abrir uma enquete, neste sábado (13 de julho), no meu perfil no Instagram (@ju_bublitz). Devo ou não testar o app e depois contar aqui como foi a experiência? Você decide!