Entre as tantas facetas da catástrofe que se abateu sobre o Rio Grande do Sul em maio, uma delas - a dos entulhos acumulados após a enchente - segue desafiando moradores e gestores municipais.
O impacto é gigantesco. Primeiro, porque o que agora chamamos de “lixo”, é, na verdade, um pedaço da vida das pessoas que foi levado pela água. Há um componente afetivo implícito, que deixa rastros não apenas nas ruas, mas também na saúde mental da população atingida.
Antes da catástrofe climática, eram móveis e objetos pessoais. Tudo virou "nada".
Para piorar, montanhas de materiais descartados seguem cobrindo calçadas e vias em diferentes municípios do Estado, inclusive na Capital.
Andei pela Zona Norte e vi a situação de perto. Em alguns locais, os montes passam de dois metros de altura, dificultando qualquer tentativa de retomada.
O prefeito Sebastião Melo tem dito que há enormes dificuldades para contratar mais máquinas capazes de acelerar o recolhimento dos restos. Elas viraram itens disputados na Região Metropolitana, onde o volume de descartes é algo jamais visto.
Para se ter uma ideia do tamanho do problema, até a noite de domingo, só em Porto Alegre, haviam sido retiradas 69,3 mil toneladas de resíduos - imagine uma manada de quase 15 mil elefantes (é mais ou menos por aí, mal comparando).
A demanda persiste, é superlativa e não tem solução fácil, ao contrário do que muitos fazem crer, mas como aceitar a demora? Como não se colocar no lugar de quem passa por isso? E como garantir que, com a volta da chuva, o lixo não cause novos alagamentos, entupindo bueiros e bocas de lobo? As pessoas têm razão em protestar.
Vale destacar
- 1.040 garis atuam dia e noite na limpeza dos bairros mais afetados na Capital, com o apoio de 456 caminhões e retroescavadeiras, somando 1,5 mil pessoas na força-tarefa.