Não são só os textos que você lê no jornal e as imagens circulando na TV e na internet: a vida têm sido cruel com os gaúchos nos últimos dias. Está difícil enfrentar (e também relatar) a catástrofe climática que vivemos. Quando vi a imagem acima, cheia de simbolismo, travei.
A fotografia foi feita no fim de semana por uma de nossas mais talentosas diagramadoras, Taciana Pessetto, com quem convivo muito de perto, mesmo de longe. Taci mora em Lajeado, no Vale do Taquari, de onde trabalha à distância, ajudando a montar as páginas de Zero Hora, inclusive a minha coluna. Ela tem sido testemunha recorrente (e também vítima) das enchentes que, desde 2023, fustigam a região.
Nenhuma delas foi tão avassaladora como a atual. Dessa vez, por precaução, Taci saiu de casa com seus bichos, como milhares de outros gaúchos e gaúchas no Estado, para evitar o pior.
Mesmo afetada pela crise, ela decidiu, a exemplo de tanta gente preocupada com o bem comum, ajudar quem estava em situação pior. Foi doar sangue. No caminho, no centro da cidade, viu residências reviradas, lojas destruídas e dezenas de livros na calçada, danificados pela fúria do rio Taquari. Os exemplares eram parte do acervo da Biblioteca Pública Municipal, que, apesar de tudo, resistiu.
Diante de tantas vidas perdidas, os livros cobertos de lama são o “de menos”, é verdade. Mas são mais uma faceta da tragédia sem precedentes que ainda está sendo contada e que, infelizmente, não terminou.
Registrar as histórias cruéis é necessário para que elas jamais sejam esquecidas e, principalmente, para suscitar mudanças. Como prevenir novas catástrofes? Esta é a pergunta que precisa ser respondida a partir de agora.
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P.S.: vítima do clima, a Biblioteca Pública Municipal João Frederico Schaan, de Lajeado, fez 83 anos em 2024. Graças ao esvaziamento prévio do subsolo, apenas uma pequena parte dos 27,2 mil títulos foi afetada.