Era por volta do meio-dia desta quinta-feira (2), em Lajeado, quando dezenas de pessoas se amontoavam em um dos mercados do município. Mesmo com todos os caixas abertos, as filas juntavam mais de 40 clientes cada, com espera que superava uma hora. Além do movimento intenso, provocado pelo medo de um desabastecimento em uma cidade isolada, a dificuldade de conexão ampliava a demora no pagamento por cartão ou Pix, inviável pela falta de conexão — para o pagamento em dinheiro, faltava troco.
Nas prateleiras, itens essenciais começaram a faltar. Não havia mais água em galão e os poucos fardos de 500ml eram apenas de água com gás. Os preços não aumentaram.
No mesmo shopping, que depois fechou as demais lojas, a busca era intensa por carregadores portáteis de celular, os powerbanks. Mas o rádio de pilha era o mais procurado, apesar de não existirem mais unidades disponíveis.
— A gente tá sem luz, só com rádio pra saber o que tá acontecendo — disse uma das 10 clientes que entrou em menos de 30 minutos na loja do Jeferson Becker, que vendeu 10 rádios e 30 powerbanks.
— Carregador de celular eu perdi a conta — relatou Becker.
— Na enchente de setembro vieram atrás, mas eram cinco, seis. Mas essa aqui não, levaram tudo e se tivesse mais, teria vendido — disse o empresário, que não aumentou os preços e abriu a loja para as pessoas carregaram celulares e usarem Wi-Fi.
Durante a tarde, o sistema caiu na maioria das lojas, que acabaram fechando as portas. A previsão é de que os estabelecimentos não abram nesta sexta-feira (3), até porque os próprios funcionários não têm como chegar.
O município vê o nível do Rio Taquari subir e invadir vias da região central. No hospital Bruno Born a água estava a poucos metros na tarde desta quinta-feira. Barricadas com areia foram montadas para atrasar o avanço da água, enquanto pacientes eram transferidos para os andares de cima.
Sem luz, internet e teto, moradores vagam pela cidade. Um dos poucos pontos com maior número de pessoas era nas proximidades da ponte entre Estrela e Lajeado, totalmente coberta. Dezenas de curiosos se revezavam em uma passarela para observar.
Ao fundo, helicópteros subiam e desciam a todo momento no Parque do Imigrante com resgatados. O som das hélices divide o protagonismo com o barulho da chuva incessante e dos trovões que rasgam o céu a todo instante.