Quando a gente começou a se dar conta deles — os algoritmos —, o efeito-bolha já estava consumado. As redes sociais, que prometiam ampliar a sociabilidade e a partilha do conhecimento, viraram… antissociais. Deram guarida a realidades paralelas impermeáveis, marcadas, não raro, por agressividade, radicalismo e — quem poderia imaginar — incapacidade de diálogo. A película que nos separa é fina, mas resiste.
Demoramos a perceber. Os algoritmos, base da programação de tudo o que vemos na internet, foram turbinados pela inteligência artificial para nos manter vidrados nas telas, usando como iscas todos os tipos de artifícios (até as famigeradas fake news).
Não é por acaso que, cada vez mais, anda difícil desapegar do “scroll” — o ato automático de mover o dedo sem parar para saltar de um post a outro ad aeternum.
Anna Lembke, uma das mais respeitadas especialistas em dependência química da atualidade, professora da Universidade de Stanford que virá ao Fronteiras do Pensamento em setembro, em Porto Alegre, disse tudo no livro Nação Dopamina: as “drogas digitais” (com as redes sociais na dianteira) são tão viciantes quanto cigarro, álcool ou cocaína. Só não vê quem não quer.
Em A Máquina do Caos, o repórter investigativo Max Fisher dissecou o funcionamento das grandes empresas de tecnologia, revelando como as redes reprogramaram nossa mente e nosso mundo.
Os “bots”, robôs virtuais bem mais sofisticados do que este simpático homem de lata (foto de abertura), aprenderam rápido a “ler” nossas preferências.
— Hummm… ela curtiu o post sobre Jair Bolsonaro!
— Olha, ele comentou um texto sobre Lula! Petralha!
Risível, eu sei, mas a lógica é essa. A partir das nossas reações no Facebook, no Instagram, no X e no TikTok, o algoritmo passa a disparar mais e mais conteúdos parecidos, nos fazendo ver apenas aquilo que confirma nossos pensamentos mais íntimos. É a tal bolha.
Os desavisados podem ser levados facilmente a crer que o seu ponto de vista é hegemônico e que os outros nem sequer merecem consideração. Deveriam ser expurgados, afinal, são “nada”.
Os algoritmos foram projetados para levar a “brincadeira” ao extremo. Confrontos e conteúdos radicais grassam nos ambientes anônimos, que só parecem ser terra de ninguém. Têm dono.
Ok, estou exagerando. Tem muita coisa boa nas redes. Elas abrem possibilidades jamais vistas de comunicação, em um experimento coletivo sem precedentes na história humana. Temos mais a ganhar do que a perder com elas. Só que, para isso, precisamos furar as bolhas.
Temos de “enganar” o algoritmo. Isso significa seguir pessoas das quais divergimos e ler, ver e ouvir o que elas têm a dizer. Significa abrir horizontes para confundir o “bot” de estimação. O meu já está tontinho, tontinho. E o seu?