A cada virada de ano, desde que os smartphones se tornaram onipresentes em nossas vidas (para o bem e para o mal), uma cena sempre me chama a atenção: seja na festa de Réveillon da Times Square, em Nova York, ou nos shows de fogos de qualquer praia gaúcha, os celulares tomaram o lugar dos olhos e ganharam prioridade.
O famoso "10, 9, 8, 7, 6...", que no passado nem tão distante assim era entoado com palmas, olhares e sorrisos cúmplices, hoje é filmado na telinha do telefone - e ninguém mais presta atenção de verdade em nada. É quase uma obrigação registrar tudo até o final, até que o céu fique iluminado pelas luzes multicoloridas, perfeitas para uma postagem nas redes sociais (que todo mundo vai fazer igual).
Não se trata, aqui, de uma declaração de guerra aos telefones, até porque eles significaram uma revolução nas nossas vidas (eu não vivo sem, inclusive como instrumento de trabalho), mas de uma reflexão: será que não estamos exagerando?
Nesta noite deste 31 de dezembro de 2023, proponho um ato "revolucionário": assim que começar a contagem para o novo ano que vai nascer, deixemos o celular de lado. Voltemos a olhar nos olhos de quem nos acompanha na festa, a celebrar com corpo e mentes presentes, a ver a pirotecnia através das nossas próprias retinas - e não da telinha, que tem, sim, seus encantos, mas não substitui a experiência da vida real.
Façamos uma foto ou um vídeo bonitos da turma e da celebração antes e depois. Lembre-se: a câmera do smartphone, por melhor que seja o modelo, jamais conseguirá reproduzir o show de fogos como você vê. É mais ou menos como quando a gente tenta fotografar a Lua cheia - o resultado, em geral, fica muito aquém do que os nossos olhos veem.
De minha parte, este será um Réveillon à moda antiga. Como nos velhos tempos.