Depois de anos amargando dificuldades, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) não só superou a crise como acaba de ser citada entre as três melhores do gênero no Brasil. A menção faz parte da retrospectiva de 2023 da Revista Concerto, referência no setor, publicada desde 1995.
O texto é assinado pelo diretor e editor Nelson Rubens Kunze, músico e engenheiro, com passagem pela Escola Superior de Artes de Berlim. Vinculada à Secretaria de Cultura do Estado, a entidade gaúcha aparece atrás apenas da poderosa Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e da Filarmônica de Minas Gerais, e à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), do Rio de Janeiro.
Não se trata de uma premiação formal, mas, na avaliação de Evandro Matté, maestro e diretor artístico da Ospa, há motivos de sobra para celebrar:
— Há alguns anos, a orquestra mal tinha local para ensaiar. Hoje é mencionada como a terceira melhor do país em uma publicação muito conceituada no meio, especializada no assunto. Isso é resultado de um trabalho sério, de longo prazo.
Para quem não lembra, a Ospa - que fez 73 anos em 2023 - passou anos sem nem sequer ter sede própria.
Só em 2018, na gestão de José Ivo Sartori, a instituição finalmente ganhou um teto para chamar de seu, com a inauguração da Casa da Música no Centro Administrativo - que garantiu um auditório totalmente renovado e com ótima acústica.
Depois, o governo de Eduardo Leite deu continuidade aos investimentos e, com isso, foi possível concluir os espaços de ensaio e os camarins e abrir a Sala de Recitais em 2021 e, mais recentemente, finalizar o Memorial da Ospa, um antigo sonho.
Nesse período, houve, também, a realização de um novo concurso público para recompor o grupo, que teve 485 candidatos de 20 Estados e de 26 países. De imediato, em 2022, o certame resultou na nomeação de 16 novos e qualificados instrumentistas.
Na sequência, em 2023, Leite sancionou uma lei (aprovada por unanimidade na Assembleia) que reajustou a verba para manutenção de instrumentos e vestuário dos integrantes. Tudo isso contribuiu para a retomada de protagonismo, iniciada lá atrás por Pablo Komlós (o regente que "inventou" a Ospa).
— Estamos muito felizes com esse destaque nacional. É uma construção que vem desde a gestão anterior e que nós abraçamos, porque sabemos da importância da Ospa para a sociedade gaúcha. Digo sempre: os governos passam, mas as instituições devem ser sólidas para que resistam. É nisso que acreditamos — reforça Bia Araújo, secretária estadual de Cultura e presença constante nas apresentações da orquestra.
Nomeado presidente da Ospa em 2023, o médico, escritor e colecionador de arte Gilberto Schwartsmann diz que a boa fase deve servir de estímulo para novos saltos.
— Temos sempre de puxar a régua para cima — resume o presidente.
Para 2024, a programação oficial (que ainda não foi divulgada) reserva algumas surpresas. Schwartsmann já está em busca do apoio de empresas parceiras via Lei Rouanet - a primeira a garantir suporte foi o Banrisul, liderado por Fernando Lemos, outro apaixonado pela orquestra.
Se tudo der certo, a intenção é receber 18 maestros convidados ao longo do ano em Porto Alegre, a maioria deles estrangeiros. Também está prevista, entre outras dezenas de espetáculos, uma apresentação especial com o premiado grupo Corpo, que conquistou fama internacional sob o comando da coreógrafa gaúcha Deborah Colker. Que venha 2024!