A mãe que prepara a comida da família; a avó ao vestir o neto para a escola; a sobrinha responsável por comprar os remédios do tio idoso; a vizinha que fica com o menino para a mãe poder sair; a mulher que cuida da casa de outra mulher para que esta também possa ganhar o seu dinheiro… tudo isso é trabalho.
Curioso é que ganhou a fama de “invisível”, não porque não aconteça, mas por ser desvalorizado e, em geral, não remunerado. Muitas vezes, a atividade nem sequer é classificada como trabalho.
Só que essa dedicação toda é fundamental para mover a roda da economia e sustentar carreiras. Sem isso, muita gente não poderia ter um ganha-pão, em especial a parcela dos homens que ainda se mantém alheia às funções domésticas ou que gosta de dizer que “ajuda” em casa - como se a casa não fosse sua também.
Por sorte, isso está ficando no passado e as tarefas são cada vez mais compartilhadas, mas as mudanças de cultura não ocorrem de uma hora para outra. São lentas, demoradas, geracionais e ainda mais difíceis em áreas periféricas, marcadas por baixa escolaridade e renda.
Não é por menos que a “economia do cuidado” - outro nome dado ao trabalho invisível - anda ganhando espaço em reportagens, podcasts, pesquisas acadêmicas e até na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no último domingo (5).
O enunciado, é verdade, não ajudou muito. No lugar de "desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil" (hein?!), daria para resumir a questão de um jeito bem mais claro e direto.
No fundo, o que está se falando é: passou da hora de reconhecer a jornada dupla (às vezes tripla) de quem não cuida apenas de si, mas de famílias inteiras, indo ao supermercado, preparando refeições, lavando roupa, fazendo faxina, olhando pelos idosos, dando banho nas crianças, botando a turma para dormir, ajudando parentes, conhecidos e até desconhecidos.
Se você tem alguém assim por perto, valorize, apoie, repense hábitos e divida a carga. Essas mulheres fazem o mundo girar.