"É preciso estar atento e forte". A frase, que virou uma espécie de hino da MPB, é a estrofe de "Divino Maravilhoso", canção escrita por Caetano Veloso em 1968 e imortalizada na voz de Gal Costa. Era um tempo de repressão, quando a arte - e não só ela - sofria perseguições de toda ordem. Um tempo em que livros eram censurados.
Infelizmente, obras literárias seguem sendo proibidas, nem tão longe assim da gente. Prefiro pensar que são exceções. Vivemos um outro tempo, e ler é ser livre. É por isso que uma feira do livro como a de Porto Alegre, que chega ao fim nesta quarta-feira (15), precisa ser celebrada e, mais do que isso, valorizada e apoiada.
Foi o que aconteceu neste ano, o primeiro em que o evento quase não saiu por falta de dinheiro, depois de ter ficado de fora da Lei de Incentivo à Cultura. Pois neste feriado a feira termina, muito provavelmente (os números oficiais ainda não saíram), com recorde de vendas. O público apareceu e deu o seu abraço.
Foi a feira da superação. Mas, como escreveu Caetano, “é preciso estar atento e forte”. No ano que vem, o evento fará sete décadas. Setenta anos. Não podemos deixar que, mais uma vez, às vésperas da abertura, a organização viva a angústia de não conseguir fechar as contas, de reduzir a programação, de limitar o que deveria ser grandioso.
As boas vendas provam que, apesar de tudo, as pessoas ainda dão valor aos livros. Ler é ter acesso a outras vidas. É não ser bitolado, é ver além do próprio umbigo. E é exatamente por isso que, sempre, na história da humanidade, obras literárias acabaram sendo proibidas por quem vê nelas um risco. O “risco” de pessoas capazes de pensar e questionar, seja lá o que for.
Por tudo isso, é um alívio constatar que o a Feira do Livro de Porto Alegre resistiu. Mas e agora? O que queremos do evento dos 70 anos? Como ele pode ser maior? E se voltássemos a espraiar bancas pelo Cais do Porto? E se o South Summit também abraçasse a ideia? E se?
Estarei aqui, “atenta e forte”, com a voz de Gal reverberando nos ouvidos, para apoiar no que for preciso.