A gente sente quando entra em um lugar onde as paredes exalam história. Criada em 1900, a Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre - mais tarde incorporada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - é um desses casos. Comandada pela professora Claudia Lima Marques, a instituição se prepara para celebrar 125 anos.
Por aqueles corredores, passaram dois ex-presidentes da República, cinco ex-governadores e dezenas de juristas que comandariam tribunais, órgãos públicos e entidades país afora. Lá, foram travadas lutas renhidas pelo voto igualitário, contra os desmandos da ditadura, pelas Diretas Já, pela manutenção da democracia no Brasil.
Talvez por isso, até hoje, ex-alunos tirem dinheiro do próprio bolso para ajudar o curso. Em 2022, graças a doações, as salas de aula receberam câmeras e telas digitais interativas, inspiradas nas Salas do Amanhã, de Harvard.
Agora, no próximo dia 5, será anunciada a criação de uma associação para gerir o fundo patrimonial da faculdade. Na data, o fundo receberá a primeira doação de associados beneméritos, entre professores e ex-alunos.
A partir daí, segundo Bruno Miragem, coordenador da comissão dos 125 anos, a meta é angariar verbas para uma série de intervenções - em especial, a sonhada reforma do salão nobre, avariado desde 2019. Também está prevista a criação de um memorial com itens raros, entre eles, as provas de um estudante brilhante que se formou lá. Esse jovem chamava-se Getúlio Vargas.
Mulher pode?
Em 1986, a advogada Claudia Lima Marques foi fazer mestrado na Universidade de Tübingen, na Alemanha. Na entrevista de seleção, disse que estava lá em busca de formação, porque queria, no futuro, se tornar professora de Direito.
— E mulher pode? — perguntou o catedrático alemão, surpreso.
Mal sabia ele que a primeira professora concursada da faculdade de Porto Alegre foi Sulamita Cabral, mais de 10 anos antes, em 1974. Claudia seguiu seus passos e ainda foi além. Desde 2020, é a primeira mulher a comandar o curso.
Vaga no STF
Cinco entidades nacionais lançaram, no início do mês, um manifesto defendendo o nome da diretora da faculdade para a vaga da ministra Rosa Weber, que vai se aposentar do STF até outubro.
Rosa, aliás, é ex-aluna do curso e foi convidada por Claudia Lima Marques para o lançamento da associação do fundo patrimonial. Ela prometeu participar do evento, possivelmente, por vídeo.
O velho sino
Se tudo der certo, quando a faculdade fizer 125 anos, uma história inusitada terá fim. Em 1968, de brincadeira, um grupo de alunos peraltas furtou o antigo sino que era tocado no início das aulas. Deu o que falar, o objeto nunca apareceu e o caso virou lenda.
Desde então, corre pelos corredores a promessa de que a peça seria devolvida quando o último integrante do misterioso grupo morresse. Agora, a direção espera ter o famoso item de volta na cerimônia de aniversário, marcada para 3 de maio de 2025. Um conhecido jurista brasileiro fez parte da turma...