De uns tempos para cá, o tal "raio gourmetizador" transformou quase tudo o que comemos, com combinações excêntricas de sabores, novas (e instagramáveis) formas de apresentação e uma predileção por temperos, digamos, inovadores. Tudo na mesma proporção em que aumentam os preços, é claro. Não sei você, mas eu ando cada vez mais interessada no movimento oposto: o da "desgourmetização".
Caminhar pelo Pavilhão da Agricultura Familiar, na Expointer, em Esteio, é um bom começo. Entre as "últimas novidades" anunciadas e veiculadas nos jornais e na TV, sempre há aqueles produtores que resistem bravamente à tentação de alterar as receitas dos antepassados. Não que experimentar algo diferente, tipo linguiça com quinoa e mel ou salame low carb com especiarias exóticas, não seja bom, mas, como já disse, ando em busca da simplicidade.
Foi isso que me fez parar na banca da família Dalla Vecchia, de Aratiba, no norte do Estado.
Sobre a mesa e dependurados no teto, vi gordos lombos defumados, salames italianos com "capa branca" e apetitosas linguiças coloniais, além dos potes de banha e dos saquinhos com torresmo ("kriba", como se diz na minha terra, Santa Cruz do Sul).
Nada de diferente. Tudo muito tradicional. Sem afetação.
Puxei conversa e brinquei com o casal Douglas e Angelisa Dalla Vecchia, que toca o negócio herdado da família.
— Aqui é tudo como antigamente? — perguntei.
— É o mesmo tempero há mais de 20 anos, receita do nono, que só ele faz, ninguém põe a mão. O pessoal chega aqui perguntando se tem novidade, mas a gente acha que não precisa inventar moda — disse Angelisa, com o sotaque característico e o sorriso franco de quem vem do Interior.
Gostei tanto, que comprei um salame do nono, o seu Olir Dalla Vecchia. Ele não veio para a Expointer porque prefere ficar em Linha Sarandi, no interior de Aratiba, cuidando da produção artesanal. E sabe do que mais? Em 2022, esse mesmo salame conquistou o segundo lugar no concurso de produtos da agricultura familiar da feira. A placa está no balcão, bem à vista, brilhante e chamativa. É a prova de que valorizar as origens não tem nada de demodé. E tem gente que viaja à Toscana para se dar conta disso...