O saudosismo está movendo locomotivas. Literalmente. Não há outra explicação para o despertar dos trens turísticos no Rio Grande do Sul. Por trás do fenômeno, está o desejo incontido de (re)viver um tempo que passou.
Cansados da correria do dia a dia, os viajantes ferroviários parecem ávidos por ter a experiência de viajar em velhos vagões de madeira, devagar, olhando para a paisagem sem pressa e sentindo o vento bater no rosto. Não importa que uma viagem de 45 quilômetros leve duas horas: é exatamente isso o que busca quem embarca em uma viagem para o passado.
De alguma forma, o chacoalhar dos antigos trens de passageiros - há décadas superado pelo avanço implacável das rodovias e da indústria automobilística - se manteve vivo na memória de muitos de nós. Quem está perto dos 80, 90 anos, certamente se lembra. Suas histórias, transmitidas a filhos, netos e bisnetos, ganharam vida outra vez.
O sucesso do turismo sobre trilhos é tanto que já levou à criação de mais de uma dezena de passeios comemorativos no sul do Brasil - são linhas que funcionam por temporada, sempre lotadas.
O movimento partiu da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) e ganhou força com a parceria de empresários visionários. Bem recebido pelos viajantes e pelas comunidades no entorno, o negócio tem se mostrado lucrativo - e parte dos ganhos vem sendo revertida para o restauro de novos (velhos) vagões, o que é ótimo.
Como nos roteiros já conhecidos (entre eles, a tradicional Maria Fumaça, na Serra), os novos percursos também misturam música, gastronomia e história (e ainda oferecem pacotes para quem deseja conhecer um pouco mais dos arredores). Entre os mais procurados, estão os trens da Imigração, da Quarta Colônia e dos Vales - este último, está em operação até dezembro. Só esses três percursos já venderam mais de 140 mil bilhetes. Não é pouco.
Quem sabe um dia todo esse interesse não resulte, também, em mudanças no sistema de transportes brasileiro? Já imaginou se a gente pudesse pegar trens em linhas regulares, como na Europa, para ir ao interior do Estado, à praia ou a outras regiões do país?