O Banco de Tecidos da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre está completando 18 anos em 2023, à frente de uma mobilização nacional que pode significar um salto no tratamento de vítimas de queimaduras no Brasil.
Mais antiga do gênero em atividade no país, a instituição idealizada pelo médico Roberto Corrêa Chem abriu as portas em 2005. De lá para cá, serviu de modelo a outras iniciativas do tipo e ajudou a salvar vidas em tragédias como a da boate Kiss, em Santa Maria.
Falecido em 2009, no acidente do voo 447 da Air France, Chem deixou como sucessor seu filho, o cirurgião plástico Eduardo Mainieri Chem. Atual diretor do banco, Eduardo é uma das maiores autoridades no assunto e vem trabalhando com afinco pela a regulamentação do uso da membrana amniótica (tecido que cobre a placenta) na recuperação de queimados. A prática já é realidade há anos em países como Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Chile e Argentina.
No Brasil, vítimas de queimaduras graves ainda dependem, basicamente, de transplantes de pele para sobreviver. O problema é que não há doadores suficientes, e o tema ainda é alvo de tabu, alimentado por desinformação e preconceito.
Hoje, o Banco de Tecidos da Santa Casa disponibiliza, por ano, em média, um volume de pele capaz de atender, no máximo, 50 pacientes com lesões extensas. Esse número poderia ser multiplicado infinitas vezes, se o Sistema Nacional de Transplantes autorizasse o uso, nesses casos, da membrana amniótica, que em geral é desprezada após o nascimento dos bebês. Além da eficácia comprovada como cobertura cutânea temporária, a utilização desse material em queimados tem menor custo.
— Estamos há anos tentando essa liberação. E não estamos inventando nada. Na maioria dos países, isso é comum. Quando houve a tragédia da Kiss, recebemos doações do tipo do mundo todo e pudemos utilizar a membrana, mas apenas de forma pontual — explica Eduardo Chem, lembrando que, todos os anos, o Brasil contabiliza mais de um milhão de pessoas queimadas.
Nos 18 anos de atuação do banco, foi possível captar a pele de 496 doadores e enviar o tecido para 399 receptores no país, via SUS. Se o movimento capitaneado desde Porto Alegre tiver êxito, muito mais gente será beneficiada.
A doação de pele
- É realizada a partir de pessoas com diagnóstico de morte encefálica ou parada cardiorrespiratória, respeitando sempre o desejo da família.
- Uma fina camada de pele é retirada de áreas escondidas, como costas, abdômen, tórax, coxas e braços.
- O procedimento não causa sangramentos e não altera a aparência do doador.
- A partir da captação, a pele pode ficar armazenada por até dois anos, em temperatura de 2ºC a 6°C.
- Hoje, no Brasil, existem quatro bancos de tecido: em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.