Foi racismo, sim. "Ah, mas Vini Jr. provocou", argumentam aqueles que tentam justificar o injustificável. "Ele reagiu mal", dizem os incautos. Com uma torcida inteira gritando "macaco" a plenos pulmões? E se fosse branco o desafeto dos torcedores, o jogador teria sido insultado pela cor da pele? Não, não teria. A resposta basta. É autoexplicativa.
Só quem é preto sabe o que Vini realmente sentiu ao ser hostilizado pelos fãs do Valencia, time que derrotou seu clube, o poderoso Real Madrid, na fatídica partida disputada no último domingo (21), na Espanha.
Não, eu não sou preta. Venho de uma região colonizada por alemães no Rio Grande do Sul e tenho sobrenome de origem germânica. Sou branca e tenho olhos e cabelos claros. Nunca, nem de perto, sofri o preconceito que Vini e milhares de outras pessoas sofrem todos os dias simplesmente por terem nascido negras.
Jamais saberei o que é ser vítima de racismo e é exatamente por isso que escolhi meu lado na trincheira. Sou aliada na batalha contra a intolerância, a discriminação, o ódio e a injustiça e, como comunicadora, faço questão de escrever sobre isso. A luta antirracista é de todos nós. Ou, ao menos, deveria ser assim.
Vinicius Junior não é a única nem será a última vítima da ignorância, mas o caso dele, pela visibilidade e por envolver um dos grandes clubes do mundo, tem potencial pedagógico. O futebol é o esporte de massas mais popular do planeta. Você pode não gostar de assistir aos jogos, mas o poder de influência dos atletas, dos times e de todo o universo futebolístico é gigantesco. É hora de parar de alimentar a cultura da impunidade.
Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid, fez isso. Após a disputa, defendeu seu jogador. Disse que Vini não foi o culpado, e sim a vítima. Criticou a Liga espanhola pela omissão e exigiu uma atitude. O problema, afinal, não pode mais ser escondido e trancado no vestiário. O problema não é "isolado" nem é "pontual". Está escancarado. E eu não estou falando apenas de futebol. Só não vê quem não quer. A pergunta é: vamos nos calar?