Confiança é a palavra-chave para entender por que a Finlândia - um país marcado por longos, escuros e rigorosos invernos - acaba de conquistar, pelo sexto ano consecutivo, o título de "país mais feliz do mundo", segundo o World Hapiness Report, da ONU.
Uma série de indicadores é levada em conta na análise. É evidente que pesam na avaliação - aplicada a 140 países - quesitos como alta renda per capita e baixa desigualdade social. Mas as condições financeiras não explicam tudo. Há uma segunda camada, mais subjetiva e difícil de quantificar: a força dos laços comunitários e a certeza das pessoas de que podem confiar umas nas outras e nos governos.
A questão é que, para os finlandeses, a felicidade parece não estar propriamente atrelada a bens materiais e, muito menos, a ostentação e consumismo - vistos como futilidade e motivos de "vergonha alheia". Está na teia social que faz com que cada um se sinta amparado e seguro, inclusive nas relações com o poder público.
Simples assim. Complexo assim.
Por aqui, nos acostumamos a viver angustiados. Temos medo da violência e medo do outro, ainda mais se estivermos caminhando sozinhos, à noite, em qualquer rua de qualquer centro urbano no Brasil. Você se dá conta disso, de forma mais consciente, quando tem a oportunidade de viver no Exterior, ainda mais se essa experiência for... na Finlândia.
Há quase três meses, o jornalista gaúcho Marcelo Miranda Becker, que por anos atuou em GZH, mudou-se de mala e cuia para o país nórdico, ao lado da companheira, selecionada para uma temporada de estudos no território finlandês. O casal vive em Turku, cidade localizada no sudoeste do país, com 195 mil habitantes. Sabe o que Marcelo percebeu logo de cara? Lá, as pessoas não padecem do mal que nós, brasileiros, sofremos diariamente: o medo de sermos feitos de trouxas.
Foi preciso viver em uma realidade radicalmente oposta para que ele percebesse com nitidez a neura coletiva em que estamos metidos - não sem razão, diga-se de passagem. O fato é que, na Finlândia, a confiança é tanta e tamanha que muita gente nem sequer se preocupa em trancar a casa. Encomendas são deixadas na rua, à espera dos destinatários, sem que ninguém toque nelas. Não há o que temer. Não há por que desconfiar de nada.
Isso, sim, é felicidade.