A experiência de profissionais da área da saúde mental do Rio Grande do Sul ultrapassou fronteiras e está ajudando no enfrentamento da tragédia no litoral norte de São Paulo - destruído pelas chuvas em fevereiro. Idealizado pelo psiquiatra e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Vitor Crestani Calegaro, o curso “Trauma coletivo em desastres” foi criado para auxiliar as equipes que prestam atendimento a vítimas do temporal. São 360 participantes, 70% psicólogos.
Além de carregar na bagagem a experiência de atender sobreviventes do incêndio na boate Kiss, Calegaro coordena o projeto COVIDPsiq, que monitora a evolução dos sintomas emocionais relacionados à pandemia no Brasil - e que ganhou destaque nacional.
A ideia do curso, online e gratuito, surgiu a partir de uma conversa com a coordenadora do Centro de Referência e Apoio à Vítima da Secretária de Justiça e Cidadania de São Paulo, Luane Natalle.
— Falamos sobre a demanda por cuidados e a sobrecarga dos profissionais envolvidos. Na hora, lembrei de como foi na época da Kiss, e de como os profissionais se sentem sobre isso. Daí propus o curso — conta o pesquisador, que faz pós-doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Outros especialistas participam da atividade, entre eles duas professoras especializadas em traumas e desastres: Maria Helena Pereira Franco, do Departamento de Psicologia Clínica da PUC-SP, e Andrea de Abreu Feijó de Mello, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp. Elas atuaram nas tragédias da queda do avião da TAM (em 2007) e do rompimento da barragem em Mariana (em 2015).
A intenção é capacitar os profissionais no acolhimento das demandas em saúde mental, no manejo inicial dos pacientes, nos encaminhamentos e no monitoramento e tratamento de longo prazo.
— Na época da Kiss, lembro o quanto foi importante ter feito uma capacitação oferecida pela PUCRS. Esse curso é a minha forma de retribuir a ajuda e de contribuir com outras pessoas — diz Calegaro.