Até pouco tempo, poderia soar como piada a criação de secretarias públicas de calor - algo que já vem ocorrendo em diferentes pontos do mundo, de Atenas, na Grécia, a Freetown, em Serra Leoa. Em meio a ondas de temperatura extrema cada vez mais comuns, não há motivos para rir. Os últimos dias de aquecimento acentuado no Rio Grande do Sul que o digam. Porto Alegre (que, não por acaso, ganhou o apelido de “Forno Alegre”) foi a capital mais quente do Brasil no período.
Criada em 2020 pela Fundação Adrienne Arsht-Rockefeller, uma ONG com sede em Washington (EUA), a Extreme Heat Resilience Alliance (EHRA) - ou Aliança pela Resiliência ao Calor Extremo - atua junto a governos para reduzir os impactos do calorão na vida das pessoas.
Desde 2021, um grupo de cidades e um condado (Miami-Dade County, nos EUA) nomearam “chief heat officers”, secretárias (sim, são todas mulheres) focadas em ações para atenuar os efeitos ameaçadores das ondas tórridas - em especial, nas áreas urbanas, onde há cada vez mais concreto e menos árvores ("coincidência", não?).
Esses locais recebem assistência técnica da EHRA - que conta com especialistas em áreas como ciência do clima, meteorologia, saúde e ciências sociais - e se conectam a uma rede global que trabalha para lidar com os riscos do superaquecimento.
As medidas ainda são iniciais (a maior parte ainda está em desenvolvimento), mas já incluem, por exemplo, ações educativas junto às populações vulneráveis. Elas são mais afetadas e as menos informadas sobre como se proteger do calor opressivo (considerado um "mal silencioso", ao contrário das catástrofes naturais). Os projetos incluem, também, a coleta de dados para pesquisas e orientações sobre o que cada governo e comunidade podem fazer em termos de prevenção - desde ações urbanísticas e de paisagismo até coisas simples, como a instalação de toldos em pontos de grande circulação, como feiras livres, para evitar a exposição aos raios solares.
O fato é que as cidades estão na linha de frente das mudanças climáticas - que significam mais calor, mais tempestades violentas, mais inundações, mais reviravoltas nos termômetros. Elas são parte do problema e são, também, parte da solução.
Talvez - lanço aqui uma ideia - nossos gestores pudessem procurar entidades como a EHRA em busca de algum tipo de parceria, a exemplo do que vêm fazendo em relação ao programa Cidades Educadoras. Está mais do que na hora de a emergência climática entrar na agenda dos municípios e do governo do Estado, que, não por acaso, se veem às voltas - outra vez - com mais uma estiagem.