Há décadas estudiosos alertam para a associação potencialmente perigosa entre substâncias psicoativas e direção, mas como prever quem são os condutores mais propensos a se envolver em acidentes? O Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) apresenta nesta quinta-feira (24) três estudos inéditos sobre o tema no Rio Grande do Sul, elaborados a partir de testes em simulador de trânsito.
Curioso é que o equipamento é capaz de apontar potenciais riscos mesmo em motoristas sóbrios. Isso é possível a partir da identificação de comportamentos impulsivos pré-existentes, que são amplificados quando o sujeito bebe, por exemplo.
Os softwares foram desenvolvidos no Canadá e trazidos ao Brasil pelo psiquiatra Flavio Pechansky, médico do HCPA e autoridade no assunto. A máquina é diferente daquela que, até pouco tempo, era usada em CFCs, justamente por ser programada para induzir erros em pessoas com predisposição a isso. Aí está o “pulo do gato”.
Para fazer os testes, os pesquisadores chamaram motoristas gaúchos que perderam a carteira por uso de álcool, além de condutores que costumam usar o celular ao guiar. Depois de uma avaliação psicológica, os voluntários foram convidados a passar pelo simulador. Parte dos estudos ainda está em andamento. Ainda assim, o que se viu até agora reforçou o que já se sabia.
— Não descobrimos a pólvora, mas conseguimos dimensionar algo real com um método seguro, porque não dá para fazer isso na rua, no Brasil. Conseguimos fazer simulações sofisticadas em laboratório — diz Pechansky.
Para saber mais
Na manhã desta quinta-feira (24), a partir das 8h30min, no auditório do hospital, serão descritas as características biológicas, psicológicas e neurobiológicas de motoristas que bebem e dirigem e também daqueles que usam o telefone ao volante. As pesquisas têm o apoio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e são financiadas com verbas públicas. O evento é gratuito e aberto a qualquer pessoa.
Próximos passos
As pesquisas em curso terão continuidade. Um dos desdobramentos previstos, que deve ter início em 2023, é o treinamento de agentes da Polícia Rodoviária Federal para que sejam capazes de identificar motoristas alcoolizados (que se negam a fazer bafômetro) a partir de exames clínicos. Será um estudo “duplo cego”: parte dos condutores voluntários será alcoolizada e parte não, sem saber em que grupo está.