A casa-ateliê onde um dos gênios da pintura no Rio Grande do Sul viveu e trabalhou até o fim da vida, em Porto Alegre, vai voltar a transpirar arte. A partir de 2023, ao final de uma reforma iniciada nesta semana, o lar que um dia abrigou Iberê Camargo e sua eterna companheira Maria Coussirat será transformado em residência para artistas convidados.
A ideia é receber visitantes de diferentes países, para que possam produzir, pesquisar, trazer conhecimentos e trocar experiências aqui. O primeiro acordo de cooperação - selado com a ajuda da Aliança Francesa - será com o Institut Française.
— Iberê sempre quis que sua casa tivesse utilidade. Tenho certeza de que está feliz agora e que vai nos ajudar lá de cima — diz Emilio Kalil, diretor da Fundação Iberê, a quem pertence o espaço.
Com 490 metros quadrados, a edificação fica no bairro Nonoai e foi projetada especialmente para o pintor em 1986, pelo arquiteto Emil Achutti Bered - que hoje tem 96 anos e foi um dos precursores da arquitetura modernista no Estado. Iberê viveu no local até 1994 e Maria, até 2014, quando faleceu.
Desde então, seguem lá a cama, a biblioteca e objetos pessoais do casal, mas o espaço precisa de cuidados. Com apoio da CEEE Equatorial, a fundação já conseguiu resolver um antigo problema elétrico. Agora, a expectativa é de que a reforma fique pronta até março de 2023 e que o primeiro residente, da França, seja definido em junho. Já há tratativas, também, para uma parceria com o Instituto Camões, de Portugal.
— A ideia é que o Rio Grande do Sul se torne um polo de atração e entre no circuito internacional de residências artísticas — projeta Kalil.
Drops de arte
Iberê Camargo sempre desejou permanecer - não como presença física, mas com a sua arte. Fez isso de muitas formas. Só a fundação que leva seu nome, em Porto Alegre, resguarda 217 pinturas, 1,6 mil gravuras e 3,7 mil desenhos e guaches.
Em meio a essa produção, estão uma série de autorretratos. Como todo artista, Iberê também se representou nas telas, em diferentes fases da vida. Na obra ao lado, pintada entre 1941 e 1942, ele nos observa com olhos atentos e um quê de melancolia, postado diante de um cenário poroso, que parece se dissolver em tormenta.