Foi uma declaração de amor à cidade. Na noite deste sábado (22), acompanhada de grande elenco, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) emocionou, fez rir, tirou a arte do "pedestal" (transformando uma ópera em atração de apelo popular) e brindou, no histórico palco do Theatro São Pedro, os 250 anos da Capital gaúcha.
Quem imaginaria que a adaptação de uma obra escrita para a sociedade vienense de 1874, por Johann Strauss II, teria tanta proximidade com o público local? Pois é, esse é um dos segredos do sucesso da opereta O Morcego, encenada em português (nas falas e nas canções e inclusive com legendas projetadas na parede).
Além da clara opção pelo "didatismo" (que ajuda muito na compreensão e na popularização desse segmento), o texto de Flávio Leite, diretor cênico do espetáculo, transporta os personagens de Strauss para uma festa de Ano Novo em... Bingo! Porto Alegre de 2022.
Como se isso já não bastasse para fisgar a plateia, Leite e o maestro Evandro Matté, diretor musical da superprodução, decidiram dividir os holofotes com convidados mais do que especiais.
Entre os bailarinos da Cia. Municipal de Dança, os cantores do Coro Sinfônico da Ospa, os sopranos, tenores e barítonos escolhidos a dedo, a plateia se deleitou com um trio que tem o DNA do Rio Grande no sangue: Hique Gomez, da eterna peça Tangos & Tragédias, Isabela Fogaça, entoando (doce, bela e poderosa) Porto Alegre é demais e Renato Borghetti fazendo bonito com sua gaita-ponto cheia de vida (ele tocou o clássico Milonga para as Missões).
Além desses três talentos reconhecidos, houve ainda a atuação de um jovem ator gaúcho chamado Henrique Cambraia, que vem chamando a atenção na cena teatral e que fez o público cair na gargalhada. Que bom, em um momento tão tenso, às vésperas de uma das eleições mais acirradas e agressivas dos últimos anos, poder simplesmente se deixar levar e rir. Foi lindo - e teve até uma surpresa para o público no intervalo.
Não posso encerrar esse texto sem destacar a qualidade técnica dos músicos, que tocaram do fosso do teatro (aquele espaço que fica sob o palco, longe da vista dos espectadores), a cenografia surpreendente de Rodrigo Shalako, a iluminação (ou seria pintura?) de José Kabelo e o figurino luxuoso de Antonio Rabàdan.
E o que dizer dos nove cantores que deram vida aos protagonistas? Gabriella Pace, Daniel Germano, Thayana Roverso, Fellipe Oliveira, Denise de Freitas, Lazlo Bonilla, Saulo Javan, Francisco Amaral e Helena Koonings não apenas cantaram: cativaram o público.
Ainda há mais duas sessões previstas de O Morcego. Uma delas é neste domingo (23), às 18h, e a outra é na próxima terça-feira (25), às 20h. Os ingressos estão esgotados.