Antônio Borges-Cunha é um maestro incomum. Começou a carreira dedilhando a gaita, ainda guri, nos Campos de Cima da Serra, e foi músico de baile. Chegou a ter um programa de rádio e tocou até em circo. Hoje, ao completar 70 anos de vida, é um dos mais respeitados nomes do cenário instrumental brasileiro - e prepara uma celebração à altura (leia abaixo).
Cunha sempre detestou o que define como “música burocrática”. Quando jovem, fugia das partituras. Gostava mesmo era de viajar com o grupo regionalista Os Caudilhos, que arrastava multidões nos rincões mais longínquos. Até que tudo mudou.
Em uma noite de 1972, na Capital, o jovem gaiteiro de 20 anos foi arrebatado por uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa).
— Fiquei encantado. Foi impactante. Ali, decidi que era aquilo que eu queria da vida, mas sabia que meu acordeon não teria vez — recorda o compositor.
Com a coragem dos homens de espírito inquieto, ele deixou tudo para trás. Foi estudar contrabaixo na escola da Ospa, formou-se em música na UFRGS, tornou-se professor na universidade e, quando menos esperava, estava nos Estados Unidos com a família, de onde voltou PhD em composição e regência.
Ao retornar ao Rio Grande do Sul, ajudou a fundar o curso de pós-graduação em música da UFRGS, primeiro do gênero no Brasil, e assumiu o comando de dois patrimônios: a Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro, onde permaneceu por duas décadas, e a Orquestra Sesi/Fundarte, que conduziu por 17 anos e se encerrou em 2013.
Desde então, ele atualizou o repertório orquestral vigente, misturando instrumentos europeus e indígenas e introduzindo em suas composições timbres da natureza e o som do silêncio. Recebeu prêmios, títulos e loas, mas jamais esqueceu as origens.
— Nunca quis fazer música para as pessoas. Quero fazer música com elas — ensina o mestre.
Concerto dos 70 anos
Para marcar os 70 anos de vida, o maestro Antônio Borges-Cunha fará um concerto no próximo dia 29, às 21h, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.
Na celebração, ele vai executar composições próprias, ao lado de convidados especiais: seus dois filhos, os músicos Vagner e Moisés Bonella Cunha, os pianistas Celso Loureiro Chaves e Ney Fialkow, o percussionista Ernesto Fagundes e uma orquestra formada por 30 instrumentistas, entre eles estudantes do curso de Música da UFRGS.
Prévia
Antes disso, no dia 22, haverá uma prévia da apresentação no Palco Bell’Anima, um anfiteatro ao ar livre inspirado na Grécia antiga, erguido no Recanto Maestro, em São João do Polêsine, no centro do Estado.
Ospa
Ainda como parte das comemorações dos 70 anos, Cunha participará de um concerto especial da Ospa, como compositor e maestro convidado, no dia 12 de novembro.