Reunindo música, dança e encenação, a animação vai tomar conta do Theatro São Pedro nos próximos dias. A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) troca sua casa pelo teatro para montar a opereta O Morcego, atualizando o clássico de Johann Strauss II (1825-1899) para a Porto Alegre de hoje, em uma grande celebração no palco. O divertido espetáculo contará com participações de personalidades queridas pelos gaúchos: Renato Borghetti, Isabela Fogaça e Hique Gomez, além de solistas consagrados na cena lírica brasileira, do Coro Sinfônico da Ospa e da Cia Municipal de Dança de Porto Alegre. A apresentação promete ser a maior produção da orquestra nos anos recentes e terá sessões neste sábado (22), às 20h, no domingo (23), às 18h, e na terça-feira (25), às 20h. Restam apenas ingressos para galerias (veja serviço ao final do texto).
A montagem dá prosseguimento à tradição recente da Ospa de executar ao menos uma ópera por ano. Em 2022, a orquestra optou por uma das operetas mais famosas e mais encenadas, sendo a mais conhecida de Strauss, um dos grandes compositores da história da música, cujas valsas embalaram a vida social de Viena na metade do século 19. A opereta é um tipo de ópera mais leve e de tom cômico em que há alternância entre textos falados e cantados.
Na adaptação de Flávio Leite, que também assina a direção cênica do espetáculo, a história de intriga e hedonismo na sociedade vienense de 1874 é transferida para a Porto Alegre de 2022. Assim, a festa de Ano-Novo do enredo combina-se às conquistas recentes da Ospa — como a Casa da Ospa, um show histórico na Argentina e um disco novo — e à celebração dos 250 anos da cidade, culminando em uma grande comemoração. As músicas "borbulhantes" e o enredo serão os mesmos da obra original, com a adaptação dos diálogos falados para recontar a história.
— A história gira em torno do segundo ato, que se passa em uma grande festa. Então, por que não fazer dessa uma festa de comemoração dos 250 anos da cidade? Decidimos atualizar esse Morcego e trazê-lo para se passar aqui em Porto Alegre na noite de 31 de dezembro de 2022, que vai ser então o último evento comemorativo do aniversário da cidade — explica o diretor cênico.
Superprodução
Com cerca de duas horas e meia, O Morcego porto-alegrense promete ser a maior produção da orquestra da última década: terá um cenário diferente em cada um dos três atos, com trocas de figurinos, e envolve cerca de duas centenas de pessoas. Mais de 50 artistas estarão sobre o palco, entre bailarinos e cantores, além dos músicos da orquestra, que ocuparão o fosso do teatro.
Nove cantores que despontam na cena lírica brasileira darão vida a essa trama: Gabriella Pace (soprano), Daniel Germano (baixo-barítono), Thayana Roverso (soprano), Fellipe Oliveira (baixo-barítono), Denise de Freitas (mezzo-soprano), Lazlo Bonilla (tenor), Saulo Javan (baixo-barítono), Francisco Amaral (tenor) e Helena Koonings (soprano). Para o papel do carcereiro, o ator e dramaturgo Henrique Cambraia foi escalado.
Dividido em três atos, O Morcego (Die Fledermaus, no original) tem como ponto de partida o divertido plano de vingança de Falke (Fellipe Oliveira) contra o seu amigo Gabriel von Eisenstein (Daniel Germano), que o havia deixado em uma situação embaraçosa no passado. A trama acaba envolvendo também a esposa de Eisenstein, Rosalinde (Gabriella Pace), a funcionária Adele (Thayana Roverso) e Frank (Saulo Javan), o chefe de polícia da cidade. Quando todos se encontram no maior evento social do ano, um baile de máscaras na residência do príncipe Orlowsky (Denise de Freitas), a revelação das suas identidades dará início a uma série de confrontos hilários.
O espetáculo tem regência e direção musical de Evandro Matté, diretor artístico da Ospa. Ele explica que um dos motivos para a escolha de O Morcego foi o fato de a ópera estar traduzida para o português, algo pouco comum. As récitas serão faladas e cantadas na nossa língua, mas mesmo assim haverá legendas, para complementar a compreensão. O maestro ressalta que a orquestra pretende ampliar o acesso do público à arte — como já o faz por meio de concertos, de apresentações no Interior e projetos educacionais —, incluindo a ópera.
— Queremos levar à nossa comunidade, de modo geral, um espetáculo local de altíssimo nível, no qual as pessoas possam conhecer o que é uma ópera, como isso é feito e o resultado que isso tem no palco. Nossa função é produzir cultura, entregar a arte que nós fazemos para a população e variar as formas — complementa Matté.
Com a participação de cantores solistas, bailarinos, coro e orquestra, a ópera, dentro da estrutura das artes, é uma das mais completas, na visão do diretor musical. Ele destaca ainda a presença de um elenco de primeira de todo o país.
Tradicionalmente, em todo o mundo, durante a cena do baile, convidados locais fazem uma participação especial. Para um espetáculo adaptado ao público gaúcho, nada mais representativo do que ícones da cultura sul-rio-grandense, como Borghettinho, Isabela Fogaça e Hique Gomez. Cada artista apresentará sua canção característica, como atrações musicais do baile.
Convite à reflexão
O espetáculo também convida o público a refletir sobre relevantes temas da contemporaneidade, como as relações de trabalho doméstico, que se alteraram desde 1874; a questão da identidade de gênero, um tabu no Brasil em 2022, mas que não era algo problemático na Viena do século 19, visto que o papel do príncipe foi criado para uma voz feminina; e o padrão de corpos, esculpidos à base de sacrifício físico, na dança, em meio à luta por ações afirmativas de empoderamento e de inclusão de todos os tipos de corpos na arte. O espetáculo, que é sempre uma grande festa, será bastante inclusivo nesta montagem, com pessoas reais, de todos os tipos e cores — incluindo uma pessoa não binária, que dará vida ao príncipe, e uma bailarina trans.
— Eu sou muito fã da tradição, mas acho que tem determinadas obras que a gente não pode perder a oportunidade de ver com os olhos da contemporaneidade. E é por isso que a ópera segue viva até hoje, porque as questões continuam as mesmas. A gente só não precisa abordá-las da mesma maneira — salienta Leite.
O Morcego
- Neste sábado (22), às 20h, no domingo (23), às 18h, e na terça-feira (25), às 20h.
- Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
- Restam apenas ingressos para galerias, a R$ 50, à venda no Sympla (com taxa) e na bilheteria da Casa da Ospa (Av. Borges de Medeiros, 1.501) — neste segundo ponto de venda, apenas dia 21 de outubro, das 12h às 17h.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.