A jornalista Raíssa de Avila colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço
O catalão Jaume Plensa, responsável pela cabeça gigante em frente ao Iberê Camargo, que chamou atenção na última semana, é um dos grandes nomes da 13ª Bienal do Mercosul, sendo o único monografista da mostra. Um dia antes da abertura oficial da exposição, um grupo de jornalistas conhecia em primeira mão os espaços recheados de arte. Plensa quis acompanhar a caravana para prestigiar todos os ambientes e possibilidades. Em uma conversa descontraída, o artista contou à coluna sobre suas aspirações e percepções sobre a cidade e a proposta Trauma, Sonho e Fuga, que norteia a Bienal.
Fiquei sabendo que você quis visitar outros circuitos além da exposição na Fundação Iberê, onde suas obras estão. Por quê?
Claro. Eu estou curioso para olhar o que temos por aqui. Encontrei vários outros artistas (da Bienal) e essa é uma das coisas bonitas que podemos fazer, compartilhar arte com outros artistas.
É a sua primeira vez aqui em Porto Alegre?
É a segunda. Visitei alguns meses atrás para conhecer o espaço da minha exposição, o Iberê Camargo. É um espaço lindo, mas desafiador. Junto com o Marcello Dantas (curador da 13ª Bienal do Mercosul), fizemos um trabalho muito preciso ao escolher quais peças estariam na exposição, o que ajuda as pessoas a conhecerem minha diversidade. A cabeça enorme que instalamos é uma forma de chamar atenção das pessoas que estão passando por ali.
Sabe que isso me chamou muita atenção, por que várias pessoas passam pelo Iberê todos os dias, mas nunca entraram no museu.
Honestamente, esse é um dos grandes problemas dos museus no mundo. Não é só em Porto Alegre. Muitos museus são construídos bloqueando a sua entrada, e não convidando as pessoas para entrarem. Parecem uma fortaleza, se autoprotegendo. Eu odeio isso. Gosto de oferecer meu trabalho para as pessoas, mesmo que elas não estejam pedindo por isso, acho que é uma maneira democrática de espalhar a arte pelas cidades. Ofereço meus sonhos para os sonhos de outras comunidades.
Então a instalação é uma estratégia para atiçar a curiosidade das pessoas?
Se você olhar para tudo que já fiz, vai perceber que eu trabalhei por muitos anos com água, ou perto dela, porque, para mim, esse é um dos elementos mais fundamentais para a vida. Nosso corpo é composto por 70% de água e eu fiz muitas peças relacionadas a isso. Em outubro, instalamos uma obra perto do Rio Hudson, de frente para Manhattan, e era uma cabeça enorme com o dedo fazendo sinal de silêncio sob os lábios. Quando eu visitei Porto Alegre pela primeira vez, fiquei impressionado com o Guaíba, fiz o passeio de barco e fiquei com ciúmes de vocês por terem algo tão impressionante. É um tesouro. Eu quis fazer essa homenagem, pedindo silêncio, apesar de os carros estarem sempre passando e fazendo muito barulho (risos).
Nós estamos discutindo muito isso aqui. Nós construímos essa cidade de costas para o Guaíba.
Eu sou de Barcelona e lá é exatamente a mesma coisa. Por muitos anos, as pessoas pobres eram as que trabalhavam com o rio, e as pessoas ricas estavam dentro da cidade, mas acho que estamos mudando esse pensamento.
E o que podemos esperar da exposição dentro do Iberê?
Acho que é uma das exibições mais bonitas que já fiz, e não falo isso só por que será minha última. Os artistas geralmente dizem que a última é a melhor (risos). Mas é uma exposição diversa. Temos instalações, sons, pedras. Eu tento lembrar as pessoas que as coisas mais bonitas da vida são invisíveis, como a música, o amor, ideias. É uma celebração à invisibilidade.
Visite a exposição
- Endereço: Av. Padre Cacique, 2.000
- Visitação: de quinta a domingo, das 14h às 19h