Ok, ok, já estou me tornando repetitiva, eu sei. Acontece que não param de chegar novas mensagens de leitores com belas histórias do poeta gaúcho Mario Quintana. Desde que publiquei a poesia perdida que agora faz parte do acervo da Biblioteca Pública do Estado, abri uma espécie de “portal” de memórias inesquecíveis. Veja se isso não merece atenção:
A arquiteta Marta Ghezzi me procurou para contar que sua tia-avó, Amelia Vallandro, já falecida, trabalhou na antiga Editora do Globo como revisora. Lá, conheceu Quintana e viveu uma experiência parecida com a de Marietina Oliveira da Silva, que retratei na última terça-feira 25).
— Minha tia possuía um desses cadernos mencionados na coluna (um caderninho de recordações, onde as pessoas deixavam mensagens). A última folha continha um pequeno poema de Quintana — relata Marta, que herdou a lembrança.
Na folha colada com fita adesiva, está o soneto Estrelas (leia abaixo), hoje emoldurado na parede da sala da arquiteta, junto de outras preciosidades do valoroso caderno — entre elas, desenhos de artistas plásticos gaúchos que foram professores de Amelia na Escola de Belas Artes.
Outra leitora, a relações públicas Maria Luiza de Campos Matos, entrou em contato para relatar que trabalhou na Casa de Cultura nos anos de 1980, quando ali ainda havia o Hotel Majestic, onde viveu Quintana (que foi adquirido pelo Banrisul e, na sequência, pelo governo do Estado).
— Mario descia todos os dias, e tomávamos café juntos. Ele fumava o cigarrinho dele e me contava as histórias da vida. Às vezes, ele pedia um papel e uma caneta. Escrevia versos e me dava. Eu dizia: “Seu Mário, este não está assinado”. Ele respondia: “Não precisa, todo o mundo conhece a minha letra” — recorda ela, saudosa.
Anos depois, quando a Casa foi restaurada, no Governo de Pedro Simon, Maria Luiza e o poeta se reencontraram.
— Tive o prazer e o privilégio de fazer parte da equipe que trabalhou na inauguração da Casa de Cultura. Ficaram as lembranças das nossas maravilhosas conversas e os originais que ele me deu — diz ela.
Até hoje, Maria Luiza preserva os originais. Como no caso de Marta, alguns deles viraram quadros.
Estrelas
Nas campas, juntas refulgem,
Conforme o mundo as traduz:
Quando se nasce, uma estrela,
Quando se morre, uma cruz.
Mas quantos, que lá repousam,
Hão de emendar-nos, assim:
Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!
Mario Quintana
Como lembrança para Amélia Vallandro
P.A. 6/4/66
ALIÁS
São tantos os manuscritos de Quintana vindo à tona, que faço aqui uma sugestão, com aval da Associação de Amigos da Biblioteca Pública do Estado: já imaginou se todas as pessoas que guardam essas relíquias em casa entrassem em contato com a biblioteca para uma possível exposição? Seria um presente para os gaúchos.